Eu sou a última grande canção de Copacabana, sem nenhum sucesso porque ninguém tem mais tempo para ouvir música - o máximo que fazem é enfiar aqueles malditos fones nos ouvidos para não terem que cumprimentar ninguém - e espantar pedintes. E pouco me interessa se vão me escutar ou não, pois não tenho compromisso com os ouvidos alheios, apenas com meu próprio som.
Eu sou a última grande canção de Copacabana e, por isso, falo de amor e morte, de solidão e festas, de pudor e sacanagem, tudo devidamente misturado on the rocks para todos os nossos cidadãos: caretas, moderninhos, bichonas, piranhudas, sapatões sensacionais, respeitáveis senhores e senhoras, gente abastada e humildes, bandidos sem vocação criminosa, nerds e o resto da quadrilha.
Tenho fome e sede. Passo fome. Não tenho ninguém. Todos os meus amigos e parentes já morreram. Eu sou uma sobrevivência estranha, na verdade inusitada. Se eu desaparecer agora, ninguém vai me procurar nos hospitais e velórios. Tenho dores. Eu rasgo a alma.
Os meus versos querem falar dos jovens mas eu sou velho coroco, fim de linha, mas não posso afirmar que estas serão as últimas linhas de minha vida - só sei dizer que sou a última grande canção de Copacabana e uma coisa é certa: ninguém vai me escutar, me cantar, me celebrar... Eu não tenho apreço por ninguém e nem preciso de recíproca, por favor. Dane-se a audiência, eu não preciso de likes!
Li 9õ
[Le Meridien quando acende celebra nosso amor inútil
[Nunca tive amigos, no máximo admiradores
Aquele cheio de Atlântico Sul me impregna as vísceras desde sempre. Ainda somos os mesmos, os mesmos rapazes, cheios de vaidade e sonhos na banguela.
Descansemos sem paz.
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