Translate

Thursday, August 08, 2024

A última grande canção de Copacabana

Eu sou a última grande canção de Copacabana, sem nenhum sucesso porque ninguém tem mais tempo para ouvir música - o máximo que fazem é enfiar aqueles malditos fones nos ouvidos para não terem que cumprimentar ninguém - e espantar pedintes. E pouco me interessa se vão me escutar ou não, pois não tenho compromisso com os ouvidos alheios, apenas com meu próprio som.

Eu sou a última grande canção de Copacabana e, por isso, falo de amor e morte, de solidão e festas, de pudor e sacanagem, tudo devidamente misturado on the rocks para todos os nossos cidadãos: caretas, moderninhos, bichonas, piranhudas, sapatões sensacionais, respeitáveis senhores e senhoras, gente abastada e humildes, bandidos sem vocação criminosa, nerds e o resto da quadrilha. 

Tenho fome e sede. Passo fome. Não tenho ninguém. Todos os meus amigos e parentes já morreram. Eu sou uma sobrevivência estranha, na verdade inusitada. Se eu desaparecer agora, ninguém vai me procurar nos hospitais e velórios. Tenho dores. Eu rasgo a alma. 

Os meus versos querem falar dos jovens mas eu sou velho coroco, fim de linha, mas não posso afirmar que estas serão as últimas linhas de minha vida - só sei dizer que sou a última grande canção de Copacabana e uma coisa é certa: ninguém vai me escutar, me cantar, me celebrar... Eu não tenho apreço por ninguém e nem preciso de recíproca, por favor. Dane-se a audiência, eu não preciso de likes!

Li 9õ

[Le Meridien quando acende celebra nosso amor inútil 

[Nunca tive amigos, no máximo admiradores

Aquele cheio de Atlântico Sul me impregna as vísceras desde sempre. Ainda somos os mesmos, os mesmos rapazes, cheios de vaidade e sonhos na banguela. 

Descansemos sem paz.

No comments: