O assunto é antigo e tem muitas vertentes, mas uma coisa é certa: ir a shows internacionais ultimamente exige a venda de um rim para se pagar um ingresso no Rio. Tá caro. Tá caro demais.
Dia desses falei aqui sobre o Kiss. Em pouco tempo na adolescência consegui ir a vários shows espetaculares, sendo um garoto pobre e não precisando juntar um ano de mesada. Alguns deles: James Taylor em 1986, The Cure em 1987; Paul McCartney, David Bowie e Eric Clapton em 1980. Ok, dei sorte em alguns: o Metallica em 1989 eu ganhei do meu amigo Zé Maconheiro - que jamais fumou maconha, apesar do apelido, porque a namorada dele não queria ir. Em 1990, ganhei o ingresso do Hollywood Rock na rádio, por sorteio: Margareth Menezes (crush!), Eurythmics e… ninguém menos do que Bob Dylan. Nota relevante: gostaria de ter ido ao Motorhead em 1989, mas certa prudência me salvou daquilo que provavelmente foi a maior porradaria da história do Rio de Janeiro - isso enquanto Lemmy sentava a mão, ou diria nosso eterno Monsieur Limá: “O couro come”.
Resumindo: com uns tostões, dava pra ir numa boa aos shows internacionais. Claro, economizando e sem pensar em bebida, comida etc.
Acho que o primeiro show estrangeiro que considerei caro foi o dos Stones em 1995, mas aí foi um acontecimento mundial, primeira vez no Brasil, no Maracanã e tal. Acho que foi 50 reais se não me engano. O dólar estava em torno de 0,84 real, caso raríssimo. O desemprego comia solto, mas o país começava a colocar as coisas no lugar. Comprei uma arquibancada. Para minha sorte, outra namorada salvou minha vida: a do Luizinho, que não quis ir ao show(!) e então ganhei um lindo ingresso de pista para ver os Stones de pertinho, enquanto celebridades como Fausto Fawcett, Guilherme Fontes e Cláudia Abreu se esbaldavam no gramado imortal do Maracanã. Ah, antes dos Stones, também fui numa boa ao Jethro Tull no Canecão, totalmente acessível.
Antes da pandemia, foi bem razoável ver Steve Vai no Rio Jazz Montreux, no porto. Excelente mesmo. Acho que cento e pouco. Ok, qualquer trio Big Bob custa quarenta pratas, mas estamos falando de ingressos que, em dois ou três anos, aumentaram 300 ou 400%. Aqui está o Beck, fantástico, que vai se apresentar no Vivo Rio: pista VIP(?) a setecentos mangos e, para os menos nobres, pista “comum” a quinhentos. Outro dia o Glenn Hughes tocou no Centro do Rio com ingressos, digamos, promocionais: você botava um quilo de alimento não perecível, mais a incrível taxa de conveniência e pagava “apenas” trezentas pratas. Não dá pra botar a culpa na meia entrada somente.
Menos mal que muitos artistas nacionais têm feito shows acessíveis mesmo, dez ou cinco mangos. No eterno Teatro João Caetano é assim: acabaram de tocar juntos Biafra, Dalto e Nico Rezende com inteira a dez reais. No Sesc há grandes ofertas. Tomara que acabem as obras intermináveis do Teatro Carlos Gomes e da Sala Sidney Miller, cujas histórias de grandes apresentações populares são riquíssimas. Tem o teatro do Sesi também. Vamos prestigiar os músicos brasileiros, porque o preço dos estrangeiros não permite sequer ficar espiando do lado de fora...
No comments:
Post a Comment