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Monday, October 30, 2023

Histórias reais

UM


Não sei que diabos me deu. De vez em quando eu tenho sonhos muito doidos, mas dessa vez exagerei. Sonhei com uma ex-colega de trabalho que foi extremamente cretina comigo. Do nada estávamos numa sala, quando ela vem, me abraça e começa a me beijar demorada e loucamente. Algo impossível. De onde tiramos essas loucuras que se tornam sonhos, cheios de detalhes? 


DOIS


Estamos eu e Josemar ouvindo música no sebo, não entra cliente algum, ficamos bastante irritados, mas aí surgiu um assunto de quase todos os dias. Ou  melhor: de todos os dias. Fluminense. Fluminense. A gente não consegue parar de pensar no Fluminense, a gente faz as contas da loja pensando no Fluminense, a gente ouve algum artista tocando e lembra do Fluminense. Tudo é Libertadores. Então coloco no CD player uma coletânea de Joe Cocker. 


De cara vem "With a little help from my friends", demolidora. É um estouro desde que Cocker incendiou o Festival de Woodstock e mudou a vida de milhões de seres humanos. Tive sorte: pude ver Joe Cocker ao vivo no Maracanã em 1991 no Rock in Rio. Depois teve um super show de Prince, que subiu ao palco com horas de atraso e um gigantesco coro de "vi-a-do". 


Voltando a Cocker, sua versão para "With a little help" é de atravessar a alma. Uma experiência sonora da qual ninguém sai imune. Ali tem algo muito profundo que reúne rock, soul, blues, jazz, gospel e a atitude de um artista único. 


TRÊS


Andando na rua, carregando minhas pequenas e humildes comprinhas, de repente aparecem duas jovens amigas travestis, conversando alegremente pela calçada. Quando chegam perto, uma delas diz "Esse gordinho é bom". A outra ri, eu finjo que está tudo bem e sigo em frente.  E aí fico pensando que que eu fiz para merecer isso aos 55 anos de idade, com minha bermuda velha e meu pai de chinelões em frente à nova Petrobras, onde trabalha um dos próceres da cidade, Wagner Victer, provavelmente perto de vários ex-colegas dos tempos de faculdade que nunca mais verei - e é melhor assim mesmo.


QUATRO


Depois de sair do sebo, tenho a ilusão de um sonho bom, procurando por um mundo novo que já não existe.  Agora é caminhar por menos de um quilômetro, fitando lojas fechadas, procurando por imagens desaparecidas e pessoas idas.


Na segunda-feira a rua do Lavradio quase não existe. Tudo fechado. Desolação. Até o pessoal que passa apressado com seu almoço de biscoitos não está pela área. 


No meio do caminho tem uma bandeira do Fluminense, pendurada numa janela de alumínio na Henrique Valadares. O bar ao lado está cheio de flamenguistas preparando um churrasco e, claro, secando o Fluminense desde já. Mas não vai adiantar. 


Senhor, tende piedade de nós, tricolores, no próximo sábado. 


CINCO


Perto da esquina da Ubaldino do Amaral, uma garota muito bonita passa com seu cachorrinho salsicha, fazendo uma bela composição de cenário. 


A garota é bonita, muito bonita e me lembra de outra muito bela, que conheci há vários anos e que perdi contato. 


A vida é assim: amizades, admirações e amores que vão escorrendo pelo ralo. 


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