O que sei é que havíamos viajado para Arraial do Cabo por alguns dias, quando podíamos fazer isso sem nenhum dinheiro - exceto para as refeições e um ou outro lanche - não sei como era tão pobre mas conseguia fazer aquilo. Voltamos para Niterói e caminhamos da Rodoviária até às Barcas rumo ao Rio. Lembro que a tarde era um pouco nublada.
Durante a travessia da Baía, combinamos de lanchar no Bob's mais tarde, só para ver a grande novidade de Copacabana: a iluminação completa da praia. E assim fizemos, entre um Big Bob e um sundae de morango.
Por volta das seis e meia da tarde, descemos a velha Figueiredo Magalhães até a Atlântica, quando a vista nunca pareceu tão deslumbrante: o céu de azul escurecendo, as luzes fazendo uma grande trilha de ponta a ponta na orla. Dava para ver a areia, a beira, o mar. Bom, os casais safadinhos saíram perdendo seus rompantes idílicos, mas nem sempre se pode ganhar todas.
Era um sonho. Eu, que passei dez anos consecutivos pisando nas areias sem poder ver direito a bola, enxergava tudo. Ao mesmo tempo, me dava certa melancolia: eu sabia que não ia ser mais como antigamente. Começávamos faculdades, o pessoal trabalhando, os encontros iam ficar mais escassos, não daria tempo para jogar tanta bola.
Eu me lembro que Ana e Henrique ficaram extremamente contemplativos diante da vista nova de Copacabana. Algo entre o inverno e a primavera. Um dia de semana com pouco movimento, nenhum calor, nenhum vento frio, certo silêncio e mistério que a orla sempre tem de alguma forma.
Eu olhava para a areia e procurava meus amigos, imaginava lances, via garotas bonitas no pensamento e, por vários instantes, não era apenas um súdito daquela linda terra para onde fui com três dias de vida, mas me sentindo um pequenino rei daquela terra macia, rei das jogadas, olhando o ir e vir das gentes, pensando também que já estava distante dos tempos de menino da praia, onde tudo era futuro.
Nós, que tanto conversávamos, ali estávamos completamente mudos, docemente entorpecidos pela beleza da geografia que sempre nos abraçou. Ao longe, os outros dois Henriques - um, grande, parceiro da UERJ e o outro, pequenininho e gente boa, faziam barras. O nosso silêncio era um espírito da paz que parecia não ter fim - e talvez não tenha tido mesmo: por anos e anos a fio, sempre que estive em algum pedaço de litoral, pensei nesse dia de paz, dos raros na minha vida. Ano passado, escrevi um livro em três noites na Praia dos Ingleses, em Florianópolis. Eu estava lá, mas sonhava e revia o berço esplêndido das areias de Copacabana, as mesmas onde gostaria que jogassem as minhas cinzas - mas isso não tem a menor importância.
Nunca mais me esqueci das luzes da cidade de Copacabana. Elas não se apagam.
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