meu amor, teu deus
estou debaixo de sombra e água fresca
num domingo no aterro
caçando o que restou da paz
os meninos pobres, redivivos
chutando uma bola encardida
e namorando o sonho do topo do mundo
eu, que não quero ser morna nem prece
procuro os meus amigos em vão
- o tempo é implacável: somos saudade
e não sobrou uma fotografia sequer
ao longe, vejo os mendigos
ganhando o sonho da sopa na caixa
a cidade está de folga
e todos queríamos ser paz
chutar bola em tempos de abraços
desprezar a ansiosa solidão
namorar a garota mais bonita do mundo
ou o rapaz também
até que o pai nos gritasse: o almoço
e riríamos com o refrigerante
a presença da mãe, a família
o rádio pronto para o jogo das cinco
aos pés da tarde em Copacabana
com seus bares, amigos e papos
estou debaixo dos meus escombros
mendigando um punhado de paz
o jogo é o das quatro - a rádio, desalinho
e meus amigos são plena saudade
o amor, ah, o amor, das canções e versos
parecem tão esquecidos
até que alguém sorri e chora:
meu amor, teu Deus - a água leve
da pia branca levou consigo
os grandes amores da nossa infância
os predicados lúdicos do romance
dos nossos começos
e não sabemos o tempo que resta
a paz que desarma, a fidalguia:
o que temos é amor e memória
@pauloandel
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