e as doces tristes putas aguardando o carro que lhes sirva de sobrevivência
os garotos negros sentados no chão em posição de ataque em frente à porta das Casas da Banha, ignorados por senhoras respeitáveis e marombeiros com esponjas nas mãos
depois de ter visto e ouvido a esquina mais barulhenta do mundo na janela da casa de Marcelo Conde
os garotos fumando maconha e depois jogando football de praia com os operários da grande obra da Avenida Atlântica
e entender que Copacabana não é simples assim
nosso lorde das ruas é um mendigo com seis metros de altura, duzentos quilos e um cheiro indefectível de éter que atravessava três quadras
e que rivalizava com Ramiro, que picava mil papéis na rua Siqueira Campos e, certa vez, acertou um belo soco num reacionário debochado
os quitinetes estão cheios de dor, de luta, mas luxúria quando for o caso raro
generais de pijamas jogam cartas e cheiram pó na varanda de um grande apartamento do Bairro Peixoto
e garotos moderninhos vestidos de preto com camisetas do The Cult, passam apressados com seus copos de bebida alcoólica
a caminho do Crepúsculo de Cubatão
o jovem poeta Fausto Fawcett cria rapa e poesias no Cervantes, quartel-general da avenida Prado Júnior
e belas garotas passam de carro a caminho do Leme, na Pizzaria Sorrento, perto da casa do ator e lutador Ted Boy Marino
já no outro lado do bairro, no Forte de Copacabana, impera um silêncio austero, enorme, que até finge imprimir um tom sóbrio aos arredores
mas como, se a Galeria Alaska ferve solta com seu interminável carnaval homoerótico?
eu vi a calma à beira do mar que precede qualquer assassinato por motivo torpe - eu vi os sóis - eu vi três mundos
todos eles pensativos na calçada do edifício Ritz
amanhã é um outro dia
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