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Friday, October 17, 2014

veias de asfalto

o cheiro das canções da rua triste
numa cidade maravilhosa
nem as mais belas águas aliviam
a dor cravejada entre as pedras portuguesas da calçada
oh, somos importantes demais!
formiguinhas diante das grandes corporações de aço, pedra,
frieza e o grande capital
as pessoas sofrendo nas macas
ou sob marquises, tanto faz
os senhores da verdade não se importam
com seus narizes empinados
o tom professoral e um indisfarçável
pedantismo oco, sujo, fétido
ao menos há humildes transeuntes
carregando amendoins, churrasquinhos, cachorro quente
numa estação central
ou rindo e conversando futebol
uma cerveja refrescante
ainda que quase ninguém ligue quando um mendigo
dança o ballet da morte
as crianças entorpecidas
sorvendo a droga da morte
em frente a um prédio milionário
ah, dor, tristeza!
o desamor é o sangue a correr nas veias de asfalto e terra
enquanto esperamos o jogo, o domingo
a próxima novela
a grande manchete manipulada
- a biblioteca está cheia de silêncio!
- por que perder tempo com bobagens?
a cidade e suas canções tristes, sexo barato e paixões condenadas à prisão perpétua:
somos imortais de merda!
não temos coragem de encarar o ridículo que nos traz existência
enquanto um idiota vai se vangloriar de posses porque nada tem a dizer.
a cidade e seu vazio:
partida, incompreensiva
e sedenta por migalhinhas
a cidade de finos traços e o cheiro descomunal das reticências

@pauloandel

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