aleluia
uma criança dorme em seu berço esplêndido
depois de farta refeição
sem culpa pelas outras crianças
que sofrem, sofrem
debaixo das marquises
numa noite de chuva
aleluia, aleluia
irmãos distantes finalmente se abraçam
amores impossíveis contam esparsas possibilidades
de serem verdade
a doce e improvável verdade
as câmeras gravam tudo:
banalidades, acontecimentos
escândalos, excentricidades
aleluia
os jovens solitários choram seus mortos num dia de finados
e lápides floridas
as canções tristes são licores
pessoas querem ter posses
e o centro da cidade vive seus míseros arrastões
gente assustada nos restaurantes
nas agências bancárias
e homens importantes quase pisam nas pernas em carne viva
de um mendigo ferido
na antiga avenida central
aleluia
aleluia
agora chora-se o passado
os amigos desaparecidos
as bandeiras e bumbos recolhidos
os bálsamos de samba e bossa - para que chorar? o futuro é o fim
nossas pequenas chamas queimando sem sentido
até a hora em que o vento ligeiro
as cala
queimando, queimando
enquanto a noite nublada de copacabana abraça seus carros de sexo
os miseráveis e as drogas destruidoras
- o futuro é o fim! nossa arrogância é ridícula!
- ansiamos pela nossa importância ridícula!
aleluia, aleluia
as procissões de estranhos ao fim da tarde com seus trens lotados
trabalhadores sofridos
gente por demais cansada
o subúrbio é uma namorada
linda, distante, à ribalta
e os corações perdidos nunca vão se encontrar
mas ainda temos lágrimas de esperança - por elas, navegamos o romance de uma pátria rediviva
com justiça, amizade e solidariedade
lágrimas nas janelas fechadas
nas ruas de cheiro triste
desprezadas diante das calçadas de praia que oferecem
o mar de azul, o infinito, a melancolia
e tudo se resume num mundo
que jamais compreenderemos
oh, aleluia
aleluia
aleluia
@pauloandel
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