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Saturday, October 11, 2014

copacabana city blues

esta cidade cheia de esquinas
e meninas cheias de sonhos
em vão
tal como a vida que todos rejeitamos
os libertários e os reacionários dividem céu e areia, mar também
nas manhãs de domingo
e os meninos perdidos sem rumo em trilhas de crack
as senhorinhas infalíveis na igreja
enquanto outras sob o crivo do pastor
e lindas putas tristes veem novela numa barraquinha da praça do lido
a juventude não vai mais voltar
o que perdemos não retornará
mas ainda há vida, seja em risos ou o pranto da sensatez
nossas pequenas sacolas de compras faz-se admirável decadência
orgias no inferninho, na barra pesada, em prédios respeitados
e endereços conhecidos -
as irmãs nordestinas da l'uomo foram embora
os queridos bebuns do bar sniff deram o fora
a mendiga lina não lê mais o new york times em voz alta na tenreiro aranha
onde mora renatinha?
e a casa de buja, onde fica?
a turma da ladeira agora vê pay per view
os meninos do copaville moram longe, longe
sem qualquer estação
senhoras de classe e seus waffles no cirandinha
quem descobriu o segredo sagrado de mister éter?
nenhuma aída curi?
uma jovem empregada doméstica deixou seu filho, desesperada
sob os cuidados da rica médica no igrejinha
e somos tão moralistas
moralistas demais: votamos nas marchas de deus, nos choques de ordem e tudo voa solto
feito a fumaça libertadora de maconha
perto da trave do juventus na madrugada
os travestis fazem a vida, vivem, morrem, trazem risos e fazem gozar
enquanto generais de pijama ainda resistem e sobrevivem
os bares morrem no começo da noite e o baile funk faz a trilha da menina lourinha
que beija o peito de um traficante
a billboard morreu
a modern sound morreu
a suprema desapareceu
ninguém namora mais no rian ou no cinema 2
e tudo isso é lenda diante de cinco minutos de ar puro num banco do bairro peixoto:
o sol, as crianças, a primavera
copacabana e um solo de blues
há solidão, fracasso, morte mas punhados inesquecíveis de la dolce vita com alguns trocados
e o charme de um mundo secreto
que outra terra não tem:
a nossa deliciosa desordem tropical

@pauloandel

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