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Sunday, July 13, 2014

a parte ridícula da imprensa esportiva


Oportunistas.

Levianos.

Prepotentes. Megalômanos.

Há quatro semanas, diziam e escreviam: o Brasil é favorito. Basta procurar no Google.

Fizeram do pobre Neymar, um senhor jogador mas ainda longe demais de Pelé, o paradigma do futebol interplanetário.

O Brasil era o favorito. Nenhum deles afirmou: "Saibam por que não ganharemos a Copa do Mundo". Nunca fariam isso. E se o filme queimasse? Tem que conduzir a coisa ao sabor das marés...

Aos poucos, deliciaram-se  com os holandeses treinando na praia de Ipanema e com os fraternos alemães em Cabrália. Aquilo sim era trabalho. O que teriam dito de a Seleção Brasileira fosse a protagonista de tais fatos?

Felipão, com sua tradicional grosseria - aliás, a mesma que o alçou ao posto de pai da Família Scolari em 2002, com todo o noticiário à disposição - mandou-os para o inferno. Veio a conta: a Seleção execrada dia após dia até o (justo) massacre alemão, ideal para que os jornalistas de má-fé enganassem leitores trouxas: "Viram? A gente avisou."

Em geral, repetem sempre os mesmos termos. É mais fácil. Trabalho. Legado. Gestão. Estrutura.

ODEIAM os blogueiros que escrevem de forma independente sobre futebol. "Maldita internet que deixa essa gentinha escrever à vontade e nos criticar. Tá pensando o quê? EU SOU JORNALISTA!" (leia-se vergonha porque vários biólogos, estatísticos, engenheiros, açougueiros, secundaristas e mais escrevem de maneira mais clara, direta, poética e profunda sobre futebol).

Senhores da razão, não podem ser contrariados.

Aplaudem o excelente trabalho de Joachim Low à frente da Alemanha. Mas apenas por cinismo hipócrita. Low jamais teria chance de comandar o futebol do Brasil por oito anos, sem ganhar títulos e com essa gente nas redações e estúdios. Ninguém teria. Salvo Dunga, treinador da Seleção Brasileira começa no fim da Copa anterior e vai até as Olimpíadas. Perdeu, rua, vem outro, o que é ridículo, mas amplamente chancelado por grande parte da imprensa esportiva brasileira. Aos boquirrotos que gritam na televisão clamando por nomes, as imagens e manchetes falam por si só. Basta procurar no Google e no YouTube.

São os mesmos que exigem a moralização do futebol brasileiro, mas que se calaram ou fizeram piada da pilantragem ocorrida ano passado, popularmente conhecida como "Flamenguesa" (a maior coincidência da história do futebol brasileiro). Lembra a velha frase (editada) de Rubens Ricúpero: "O que é bom a gente mostra; o que é ruim, esconde".

Voltando a falar de Dunga, por sinal alguém por quem não tenho qualquer simpatia afora a carreira de jogador. Lembram dele massacrado em 1990, humilhado e depois aclamado com a Copa do Mundo nas mãos em 1994? Enquanto não questionou a emissora que transmite os jogos, paz; ao fazê-lo, sua vida na África do Sul virou um inferno.

Eles condenaram o futebol-arte de Telê em 1982 para aclamá-lo de volta em 1985, extirpando Evaristo depois de SEIS partidas. E depois, fizeram de Telê o "pé-frio" nas manchetes em 1986, como se ele é que tivesse batido o pênalti.

E falando em pênalti, vem aí mais uma de suas jogadas: o que leva parte da imprensa esportiva a deixar de lado os campeões mundiais de 1970 ainda vivos, os de 1994 e os de 2002, gente que foi lá e venceu, para enaltecer a cada dia, tarde e noite as impressões de Zico? No mínimo, um equívoco de hierarquia se o assunto é Seleção Brasileira. Ou há algo por trás disso?

Logo mais, tem Argentina x Alemanha na decisão do mundial. Uma vitória dos vizinhos colocará as manchetes em xeque: será possível elogiar o "trabalho" e a "estrutura" de um futebol forte e tradicional, mas que passa por uma colossal crise econômica? E se os alemães perderem, as loas feitas ao planejamento alemão irão para o ralo?

Preciso falar da leviandade Fla-Alemanha x Vasco-Argentina?

Alguns destes que se pretendem formadores de opinião estão aí desde os anos 60 e 70. E chamam Parreira e Scolari de ultrapassados. Por coincidência, os últimos treinadores a ganharem a Copa pelo Brasil. Não há dúvidas de que o tempo passou e que títulos no futebol não são aval para a eternidade profissional. Mas quem acompanha o discurso de parte dessa imprensa tem dificuldades de encadeá-lo por meio da lógica.

Os 3 x 0 da Holanda ontem atestam a necessidade de reformulação do futebol brasileiro. Dentro de campo, à beira dele, nas salas de reuniões e, claro, na parte mofada, oportunista e galhofeira da imprensa esportiva, manipuladora dos fatos de acordo com os interesses do patronato. 

Ah, a culpa do fracasso da Seleção era do Fred. Queriam o Brocador. Claro que o hexa não viria, mas pelo menos o jabá estava assegurado.

Aí sim seriam manchetes em cheque.

OBS: é claro que há jornalistas esportivos admiráveis e sérios. Conheço vários. Apenas não constituem maioria.

@pauloandel

1 comment:

Pedro Du Bois said...

Grande Andel, sempre perfeito em seus textos. O que me deixou triste foi o Scolari ter escolhido os jogadores em função das suas (deles) características e, no jogo, querer que eles jogassem de forma diferente. Se convocou o Fred, que é um centroavante de jogar dentro da área, ora, os demais tinham a obrigação de botar a bola dentro da área. Daí, convoca o Oscar para ordenar o meio-de-campo e pensar o jogo e, no jogo, quer que ele recue e vá tratar de bloquear os adversários. As trocas feitas contra a Alemanha, fariam o Telê e tantos outros grande técnicos já falecidos, morrerem de nojo. Abraços deste seu (já inútil) amigo. Pedro.