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Wednesday, November 13, 2013

Insones

ninguém viu ao certo a lua nova na Cruz Vermelha
enquanto mendigos mexiam em seus escombros de vida
buscando matar a dor da fome e do medo
vasculhando pequenos banquetes no lixo entulhado
ninguém viu nada ao certo ou mesmo incomodou-se
há quem creia que tudo não passa de opção ou hábito
há quem dê de ombros e depois penitencie-se em amém
ninguém viu a dor dos garotos desmaiados na praça
viajando em céus de limão com o sorriso do crack
o mundo noutro mundo que não condiz com mundo algum
há quem creia que tudo não passa de opção ou hábito
há quem dê de ombros e depois penitencie-se em amém
ninguém viu com clareza a lotação debaixo da marquise
numa noite de chuva e frio duma primavera esquisita
as flores não são mais os abre-alas da nova estação
mas acontece que ninguém viu direito ou concentrou-se
as pessoas estão ocupadas demais para pensar em alguém
pois somos uma grã-sociedade de fina competitividade:
quem tem mais sai na frente, quem não tem apenas se dana
ninguém viu ao certo a lua nova na Cruz Vermelha
há muito a se fazer para construir castelos de nada

@pauloandel

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