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Saturday, April 27, 2013

"Só entende quem namora"

O aniversário da mulher mais linda do mundo (ou sobre ontem, hoje e qualquer dia)

Então é o aniversário da mulher mais linda do mundo. E o que deve ser dito para a mulher mais linda do mundo? Como presenteá-la? O que fazer? É CLARO que você não sabe ao certo. Mas algumas coisas podem ser feitas ou ditas, ou nem tanto. Por exemplo, que tal dizer que ao tê-la visto pela segunda ou terceira vez na vida você imediatamente fez um poema, publicou-o para que muitos vissem e nenhuma das tuas amigas de lá te perdoou por isso até hoje – simplesmente porque você a elegeu a mulher mais linda do mundo com duas ou três olhadas? Ou também dizer que, naquela segunda ou terceira vez, você a achou tão espetacular, passando com suas três amigas menos bonitas, todas charmosas, ela mais charmosa do que as outras três juntas – ao menos dentro do teu coração - perto de um churrasquinho de faculdade, que aquilo até expurgou do teu verdadeiro coração uma mulher que não te merecia e que agora te procura à toa – e que Livia Klein te deu uma bolsada por isso? É uma boa ideia. Bom, não chegue ao ponto grave de dizer que já beijou outras mulheres e – em praticamente todas as vezes - fechou os olhos pensando nela – nem toda mulher, mesmo que seja a mais linda do mundo, precisa saber disso, mas se for o caso de dizer, diga, pois as verdades nasceram para ser ditas e vividas, mesmo que em vão, sempre demolindo paradigmas. Também não diga – ou agora diga! - que não se conformava com aquela beleza toda pertencer à outra arquibancada, mesmo que quando você a via numa foto, só enxergava outras cores no conjunto. Mas você pode dizer que ficou apaixonado por sua dança, seu jeito, seu charme, seu baile à ribalta num dia em que teu tio morreu, tua mãe chorava a seco e você não sabia o que fazer ou dizer, apenas escrever um poema e um poema e outro poema para esconder a dor. Você também pode falar de seus olhos de ágata, de seu jeito delicado, de sua voz deliciosamente carinhosa e contar que ficou – completamente! - embasbacado ao vê-la numa estação subterrânea de metrô, talvez como não ficasse há muitos anos e que, se não tivesse namorada naquele instante, talvez a sequestrasse e fugisse com ela sem pedir resgate e partiria para Londres, Nova York ou até mesmo São Paulo – sim, até São Paulo pode se salvar quando tem em suas ruas a mulher mais linda do mundo – sem trocá-la por dois milhões de dólares, por exemplo – e você pensou seriamente nisso, caso ela tivesse dado alguma oportunidade de ser refém – e deveria ter sequestrado sem piedade porque era isso o que você queria. E pode também dizer que ficou embasbacado como um velhote babão ao revê-la poucos anos depois numa tarde de chuva imensa, ao lado da mãe que é uma simpatia – e é claro que você não é um velhote babão, ninguém acredita nisso salvo uma ou outra, mas um pouco de dramaturgia dá algum tempero ao conjunto da obra. E que foi muito difícil voltar para casa horas depois. Ora, fale das vezes que pensou em estar de mãos dadas com ela em lugares que têm natureza, paz e silêncio, e que pensar só não foi melhor do que se realmente tivesse estado. Ou das vezes que se surpreendeu com seus telefonemas, adorou a voz, mas nunca ligou de volta porque para você isso era verdadeiro risco de morte. Que tal dizer que queria ter viajado com ela para mil lugares, escutado todas as músicas, conversado com mil carinhos, visto todas as estrelas – a Vega inclusive - e que teria trocado todas, todas, todas as garotas que teve - aqui não importa quanto – só para estar ao seu lado numa tarde de outono qualquer – não deixe de dizer dos beijos que subverteu por causa disso! - a maioria não teve amor algum! Amar é abanar o rabo, disse Cazuza – como se a vida fosse eterna? Diga o quanto você gosta de ver o sorriso dela numa foto de rede social de computadores. Conte-lhe que é uma personagem constante de seus livros e crônicas – e que isso já te custou alguns pequenos tabefes, dezenas de esporros quase merecidos, namoros desfeitos e muitas sentenças de ciúme (até ontem ao menos). Por que não fala quantas vezes sonhou com ela, dormindo ou acordado? Lembre-a do orgulho que tem por tê-la conhecido, de tantas coisas boas que desejou a ela e dela mesmo que numa distância física enorme. E que adorava ver tua caixa postal eletrônica com o nome dela mesmo que com assuntos mais que banais – é a banalidade que leva à profundidade da vida. É justo contar que você teve e tem ciúmes de todos os namorados dela, que não queria que ela fosse embora do Rio de jeito algum e que ficou muito feliz quando ela aceitou colaborar com o seu sítio de futebol – outrora uma bobagem e está, por enquanto, em vias de se tornar algo sério, típico do mundo dos adultos que você, Peter Pan completamente fora de hora, granada juvenil sem pino, insiste em desafiar. Caso ela pense que tudo é bravata, pensando não ser a mulher mais linda do mundo, você tem a saída: é claro que ela é a mulher mais linda do mundo, mas, mesmo que não fosse, seria a mulher mais linda do mundo para os teus olhos, o coração e a mente – e isso é mais do que suficiente por ora e horas. Ela, tão linda, ainda acha ingenuamente que está envelhecendo e isso jamais acontece por trás do teu par de óculos, sempre a admirá-la onde quer que esteja, porque a cada dia que passa ela fica mais linda. Ela ainda é uma menina, com seu sorriso de menina mais linda do mundo e nada vai mudar isso em teus poemas e cartas e textos banais. Diga-lhe sem falta o quanto a acha maravilhosa, simpática, doce, sexy, atraente, provocante, apaixonante, espetacular, querida, desejável, amável, adorável e todos os outros predicados que você não escreve aqui – embora pense muito - porque simplesmente está engasgado e não se lembra das melhores palavras – mas as sente, sente muito também, sente o tempo inteiro como se ela estivesse do teu lado agora num banco de praia do Leme às seis da tarde naquele mesmo outono, e vocês bebessem um drinque sem álcool e rissem um para o outro sem qualquer motivo aparente que não a companhia um do outro. Ou nas pedras quase desertas da Urca, ali onde mora o pôr-do-sol? Ou no Alto, em Teresópolis? Ou na arquibancada tricolor com pouca gente num jogo de pouco atrativo? Ou num filme EUROPEU esquisito como esses que você tem visto aos montes em cinemas alternativos com frequentadores esquisitões. Diga-lhe de como pensou nela quando você estava num quarto de hotel vazio em São Paulo, 2011. É bom dizer que também pensou em Belo Horizonte em 2012 às sete da manhã quando se falaram e isso deu num conto de livro a ser publicado em breve ou longe. Fale a ela que sempre a achou a mulher mais LINDA do mundo mesmo quando você não deu um suspiro sequer de demonstração disso – o que foi raro. Quer dizer que teria sido o velho mais feliz do mundo se tivesse passado momentos legais ao lado dela numa cidade ou bairro qualquer? Faça. Não esqueça de lhe dizer de seu charme, de sua elegância, de sua formosura que são capazes de te deixar gago ou sem palavras por vários instantes diferentes. Sim, ela é linda, é a mulher mais linda do mundo e dança muito, uma profissional da dança, enquanto você mal sabe mexer os braços mediocremente e nem parece o corredor que foi um dia; contudo, se não consegue acompanhá-la na dança – impossível! – dê a ela um novo poema, fale de sua beleza indestrutível, diga-lhe o quanto a adora e não fuja disso – ela é linda demais para não receber todas as loas do mundo hoje e sempre. A mulher mais linda do mundo faz aniversário hoje e o presente quem ganha é você, que a carrega no coração noite e dia, nas tempestades como essa agora há pouco na outra sala com a gente insana que só entende de inveja e nem uma gota sequer de amor. A mulher mais linda do mundo faz aniversário hoje e nada a fará menos do que a mulher mais linda do mundo em nenhum momento. Ela não está do teu lado, ela não vai ver o jogo de amanhã com você e nenhum de nós tem a menor ideia do que significa esse estranho caminho chamado futuro, mutante e efêmero, ninguém sabe quando ela estará aqui – onde mora teu amanhã? Mas é importante que ela saiba o quanto você a quer bem, o quanto a adora, o quanto a ama desde que a viu pela primeira vez passando na portaria de um prédio que já não existe em outro lugar que não seja a tua memória, o quanto ela te faz bem mesmo que com tão pouca coisa. E como é bom vê-la hoje, amanhã, sempre, o tempo não tem nem terá importância, o que passou, vale o sentimento e o pensamento que voam rasantes sem a menor chance de serem abatidos. Você também pode dizer que Anna riu loucamente – e talvez até por ciúmes - quando soube deste cartão de aniversário e disse que você era maravilhoso, genial e também anormal – você é anormal mesmo, nenhum problema! Chegou o aniversário da mulher mais linda do mundo e é claro que o teu coração é feliz por tudo o que ela representa. Um dia será ainda mais – e tão lindo quanto ela, oxalá. Para a mulher mais linda do mundo, nunca é tarde para se deixar o beijo de sempre, o carinho de sempre, a satisfação de sempre, o amor de sempre, a admiração que começou do nada e virou um poema de parede para todo mundo ler, tudo o que nem uma prosa assim sabe contar tão bem. Esse cartão deve seguir com uns sete ou cinco anos de atraso, mas e daí? Nada mudou nele. E você sorri porque a acha muito, mas muito linda. A vida não rima com vão, a vida é hoje e hoje é o dia dos parabéns, todos os parabéns para a mulher mais linda do mundo, linda do teu mundo e onde mais for possível ou viável. Linda sempre, tão linda demais que nenhuma prosa é suficiente para descrevê-la. É QUE você a adora, eis a mais provável explicação.

Parabéns de sempre, beijo de sempre.

Esta prosa foi escrita num único take de vinte e oito minutos em 24/04/2013, sem revisões, exatamente como tinha de ser.

O título é um dos versos de "Pro dia nascer feliz", Cazuza & Frejat, 1982

@pauloandel

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