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Friday, March 01, 2013

Rio de Janeiros





O Rio tem mazelas. E gente cruel, indiferente. Mas isso é pouco diante do grande cenário.

Ele, Rio, também tem cores e mar, admiráveis vielas de subúrbio, o caos apoteótico do rush entre Presidente Vargas e Rio Branco, o ir e vir dos baratos no Camelódromo.

O Rio tem a voz das ruas, com botequins incessantes e imperdíveis. Da Cruz Vermelha até Guaratiba, de Realengo até a Urca, do Leme ao Pontal com a devida imortalidade de Tim Maia.

Não, o Rio não é a escrotidão do egoísmo, a opressão do poder paralelo, o abandono e o descaso. Na verdade, o Rio é a criança humilde de mãos dadas com os pais num trem da Central. Ou dois garotos conversando perto do Divino, onde um dia o mesmo Tim, mais Benjor, Erasmo e Roberto escreveram linhas da história do Brasil.

O Rio é Tom Jobim martelando seu piano no Arpoador lotado ou cantando para meia-dúzia num teatrão da UERJ. É o samba de raiz pura, o jazz da Arlequim, o violão dos namorados no Engenho Novo. O velho Bloco das Piranhas comandado pelo inesquecível Moisés em Madureira. Grajaú, Andaraí, Vila Isabel. Humaitá, Botafogo e Jardim Botânico, o bairro dos ricos onde há botecos humílimos também e gente descompromissada com as convenções.

O Rio é o Maracanã sequestrado que, um dia, voltará às mãos do povo. O sambódromo lotado. As filas de cinema onde se pode ver tanto pastelões de Hollywood quanto os melhores alternativos argentinos e europeus. Ou iranianos.

O Rio é pop e funk e brega, mas quando precisa sabe ser mais Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção do que nunca. Ou Deep Purple, Iron Maiden e Charles Aznavour.

E Copacabana? Que cidade do mundo tem um bairro onde, dentro do elevador de um respeitável condomínio, um travesti e um general reformado debatem o último jogo do campeonato carioca? E onde dentro deste mesmo condomínio há apartamentos de três dois, um quarto ou quitinetes, tudo junto? Que cidade tem um bairro que abraça Braguinha, Dorival Caymmi e Fausto Fawcett ao mesmo tempo?

Nem falei de Ipanema, Leblon, Tijuca. É que não dava. Para entrar no assunto é preciso escrever um livro a respeito. Quem se lembra do verão da lata?

Por um dia, danem-se as mazelas, as greves, o resto. Mas só por um instante. Ver a beleza do Rio não tem preço. E, num outro dia, a cidade será como a bela mulher dentro de um vestido impecável. Oxalá.

Por ora, vamos cantando nossos sambas, dramas e a certeza de, se ainda falta muita coisa por aqui, melhorar é possível.

Tome um ônibus na Cinelândia via Aterro e espie a paisagem por cinco minutos. Ou passe de manhã ao lado da Quinta da Boa Vista. Tente adivinhar onde estavam os bambas do Estácio há um século.

Aí você vai entender o que é o Rio.


Paulo-Roberto Andel

@pauloandel

Imagem: Ricardo Valença, 1998

1 comment:

aarromba said...

Fala, Paulo! Realmente, a cidade é MUITO linda!!
Mas fico muito desanimado com a degradação das ruas. Em Copacabana, por exemplo, lixo, sujeira e muitos ladrões e pivetes aproveitando a leva de turistas vindos de toda a parte da mundo. As calçadas, mal tratadas, cheias de buraco, nos envergonha.
O nosso maior problema ainda é a desigualdade social, apesar do crescimento da economia. Mas enfim, tirando isso, realmente não tem preço a beleza da nossa cidade.