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Wednesday, March 06, 2013

Pobres e mortes


1

um dia seremos todos pobres
com nossos espíritos milionários
e acharemos tão estranha certa
ausência de mendigos sofridos
nenhuma criança será faminta
nem carregará chicletes à venda
um dia seremos todos pobres
respeitáveis, dignos e convictos:
será engano haver o homem rude
e rico com seus superpoderes
mais um caminhão de atritos
ninguém terá motivo em ostentar
a indiferença para com amigos
os camaradas aflitos num motivo - 
ninguém vai se eximir dos deveres
de abrigo ao próximo amigo, mesmo
que não seja tão amigo - perdido -
um dia seremos tão amáveis pobres
que nosso único grande tesouro
ha de ser a simplicidade do ser

2

estranho o povo mestiço
inteiro, num indo e vindo
em lágrimas pelas ruas
sobre a morte de seu amado
um ditador
a síndrome de estocolmo
não é o caso a se pensar
talvez as manchetes fartas
possam ter iludido sobre
um ditador
não pensamos sem respiro
todo instante é breve
mas permite o tempo bravio
para refletir
e navegar n'alma:
a quem interessa noutras
democracias a figura de
um ditador?
o "grande ditador" morreu
os humildes ofereceram luto
o abonados deram de ombros
e toda atenção é pouca:
a ditadura, na verdade,
imprime as letras eufóricas
saudando a verdadeira morte
de quem nunca foi
um ditador- a farsa maior

3

a paz não é pecado:
apenas ilusão
o respeito não é pecado:
apenas ilusão
a solidariedade
virou piada
num enriquecido
salão
e todos juntos de mãos dadas
celebrando uma grande
vitória
num reality show da
televisão


@pauloandel

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