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Saturday, August 04, 2012

13 Copacabana 13 Copacabana


1

dois anjos tortos
passeiam
em serena mendicância
por uma rua aprazível
de Copacabana -
sofrendo, riem! –
onde deixamos de ser
nós
mesmos?

2

os sexos florescem
há elegância e decadência
no olhar desejoso
- da cobiçada puta
- do efêmero travesti
e tanta gente mais
a fazer de cada corpo
um entreposto
de tesão

3

almas desertas/ e concretas/ navegam o mar bravio/ das esquinas de Copacabana – parecem abençoadas pelos santos – sugerem demônios afrodisíacos – e são verdade: essências românticas, super-humanas e mais não basta!

4

os jovens moderninhos/ e os nem tão jovens assim/ praticam o burburinho/ na dorsal atlântica do Pavão Azul – um bar predileto de Copacabana/ somos tão modernos/ e antenados/ e nos lambuzamos de atraso e tradição

5

sob lua cheia
uma copa de árvore
abafa a fumaça de um cachimbo
de crack e Copacabana se
entorpece – esfaqueia
seus sonhos enquanto
as lágrimas descem num
rosto fenecido
enrugado e não vil

6

pedir um hamburger e um
mate do Bolonha – tocar
o velho balcão de aço
espiar o letreiro de preços
e os outros fregueses
famintos – é tudo rever
Xuru

7

Eliane não estampa
mais seu sorriso lindo e
indestrutível pelas ruas
espertas de Copacabana -
agora, quem lhe namora
é o luar de Vitória

8

eu e Bola/ solidários companheiros/ justiceiros de ninguém/ delicadamente bêbados/ quando subitamente levanto/ e acosso Cássia Eller – desafiar obviedades é oxigênio cristalino!

9

Juliana mora longe
longe
da minha faixa de areia preferida
na praia de Copacabana
Juliana mora longe e sóbria
e não há de compreender
nenhum delírio exasperado
de poeta frente ao horizonte -
carcereiro da alma
guardião da morte
artífice sem esperança -
Juliana mora tão linda
feito a lua que nos
assola

10

e Tati não chora nada
que não seja pecado
na base lunar que provoca
arrepios
pela areia fria à noite
em Copacabana:
pele de ametista
olhar de naja
e inestimável vocação
de ser tão
cobiçada

11

agora o sonho é longe
e tarde
nem faço planos -
a vida, límpida, é areia
a despencar na cânula
da ampulheta -
agora virei um noves-fora-nada
e estranhamente isso
me faz tão
bem

12

onde as ruas movimentadas são artérias
e pulsam tão vivas:
sangue de asfalto, borracha e aço
e corações doidivanas
na pedra fundamental
que concebeu o maior dos corações -
o segredo de Copacabana

13

o verão disse adeus e houve
um motivo: tudo tem seu
tempo, os ciclos, o crescer e
fenecer
a noite chegou sem atrapalhar
a magnética lua cheia
a lua de Juliana
a lua de Tati
e tantas outras estátuas
de carne -
o verão disse adeus
e sou um garoto da praia
que ainda sonha à toa
com a próxima
jornada -
até breve, delicado
amor!


Paulo-Roberto Andel 04/08/2012
@pauloandel

2 comments:

Roger de Sena said...

Demais, amigo Andel!
"cada corpo
um entreposto
de tesão"
Não dá pra caminhar em Copa - pela areia, calçadão ou até pela N.Sra ou Barata Ribeiro - sem olhar a beleza das "meninas da praia"!
Se no Vieira seu filé é mais filé, sua pizza é mais pizza e seu sanduíche é mais sanduíche, em Copa a garota é mais mulher!
"Braxxx"!

Pedro Du Bois said...

Andel, poema de grandiosidade, como sempre. Abraços, Pedro.