Translate

Wednesday, August 08, 2012

Sex


E você, hein? Já fez sexo várias vezes com uma mulher pensando intensamente em outra que sequer havia beijado antes? E gozou e fez gozar intensamente enquanto tudo o que pensava era outra coisa, outra carne, outra entrega? E quantas vezes teve em seu colo a outra, a querida, a preferida? Pois bem, alguém me disse certa vez algo que parecia uma lição, mas que não soube utilizar na vida prática: “Não fique com quem você gosta, fique com quem é possível”. Um tanto pragmático, um tanto vazio, um tanto real. Mergulhamos no mundo real, a vida real, de pequenos prazeres efêmeros. O admirável mundo novo das carnes, formas e desejos, que buscamos saciar através do sexo, muitas vezes disfarçado de paixão, casamento, namoro e a mais indesejada das palavras neste tema: “relacionamento”. E você, hein? Quantas vezes você se permitiu – nem sempre - solitário prazer da masturbação enquanto sonhava com outra mulher, a outra, sempre a outra, não propriamente aquela que te falou de amor e querer para sempre e ficar a dois sempre? Então você falou de amor eterno, de sentimento eterno e fingiu que não olhava para o lado quando a outra passou num vestido provocante, de modo que a imaginou completamente nua a seu lado? E você? E você? E a sua admirável vocação para tangenciar determinadas hipocrisias que não sabemos toleram bem numa sociedade respeitável? Você fingiu em algum momento que era um cavalheiro respeitável, enquanto tudo o que queria era mergulhar nas mais loucas perversões sexuais possíveis, onde tudo fosse o underground de Copacabana misturado aos mafuás do centro e uma hipotética New York? E desejou namorar aquela puta deliciosa, que tinha o sorriso moreno e provocante feito fosse Nanda Costa à tela do cinema, ardente, provocante e, ao mesmo tempo, incrivelmente romântica? Você sonhou em tirá-la daquele puteiro quase sofisticado, quase elegante, mas temperado com o licor de decadência que todo puteiro exige? Vamos, diga! Faça das palavras um vão central, faça dos pensamentos um trem de metrô que passa sob nossos pés tremendo o chão na Treze de Maio e seguindo seu inevitável caminho de vida e morte – o início e o fim da linha, para depois voltar tranquilamente.  O que você está sonhando, hein? E pensando? A mesma mulher de carne alva e tenra que jamais lhe será o maior dos pecados? A mesma vizinha excitante no prédio? O ex-amor que nunca foi necessariamente um ex-amor? Mas afinal, do que estou falando tanto se sexo acaba ficando tão pequeno diante do vazio da alma humana? Como posso condenar quem vive como eu? O que me resta além dos pequenos sonhos e momentos, diante de tudo o que se foi e parece tão distante, perdido noutra galáxia? Eis o sexo: maravilhoso combustível para arrancarmos pela estrada afora sem pensarmos na imensidão das coisas. Prazer para se esquecer das mazelas do mundo. Prazer para entorpecer os malditos sentimentos que nos atordoam. Prazer para tentar entender o que significam o princípio e o fim daquela mesma estrada, gigante e tortuosa, que denominamos vida.

Paulo-Roberto Andel
@pauloandel
08082012

No comments: