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Friday, December 02, 2011

MODERN TIMES



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Crua a tarde nublada e chuvosa de sexta-feira. Ela intumesce o sentimento implícito de que o ano de 2011 já terminou. As ruas estão mais vazias. As pessoas vêm e vão mais lentamente. Talvez haja certa consternação por percebermos que o tempo escorre na ampulheta e não temos a felicidade eterna, indissolúvel – o que não quer dizer nada no meio de três bilhões de pessoas famintas. Quando estive no mercado ontem, noite os detalhes que já marcam o fim do ano: grandes estoques de bebida alcoólica, grãos e carnes diferenciadas, até mesmo ventiladores. Mais cedo, visitando a sala de trabalho de um amigo meu, o rádio tocava John Lennon com seu hino de Natal. Nos dias de hoje prefiro outra canção do ídolo: “Nobody told me”. O telefone já quase não toca, os e-mails são escassos; há muito trabalho a fazer, mas em outros formatos. E então olhamos para trás, visando refletir o que já passou. É pouco. Pensamos no que poderia ter sido melhor. É pouco. O que sei é que mais tarde os shoppings estarão abarrotados de sedentos consumidores, enquanto as marquises abrigarão os que nasceram condenados por tudo o que aí está, mas muitos fingem não ver porque lhes é mais confortável.



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Outro dia, o travesti estava nas imediações da rua do Senado. Alto, ainda vestido de forma feminina, mas muito humilde e sem condições de cuidado estético necessárias para ostentar o glamour que, um dia, talvez tenha tido. É possível que esteja na casa dos quase setenta anos, idade de pai ou avô. Pedia dois reais aos transeuntes; dei-lhe cinco. Olhou assustado: não deve estar acostumado com maiores generosidades. Se soubesse de minha pobreza, ele entenderia. Ontem, fazia esquina com Washington Luiz e Tadeu Kosciusko – assim mesmo. Continuava a pedir, nem sempre tendo retorno. Pedintes sempre chamam minha atenção porque eles são a mais evidente prova da injustiça em que vivemos neste mundo, onde muitos têm tanto e outros, nada. Neste caso, a atenção foi acentuada porque nunca tinha visto um travesti pedir esmolas em minha vida. Deve haver várias razões para isso. Muitos não chegaram à idade madura por diversas mazelas. Outros, vivem recolhidos. O senso comum, muitas vezes mais raso, não atenta para o travesti com alguém que pode ter vida longa, o que pode ser reforçado no imaginário pelos inúmeros jovens que se prostituem nas grandes cidades. Todos os dias ouço debates sobre a questão do respeito à homossexualidade no Brasil – todos justos, por sinal. O movimento homoafetivo consegue colocar milhões de pessoas nas ruas das grandes capitais em manifestações de civilidade. Será que não poderiam cuidar também dos travestis na terceira idade, que não são muitos? Melhor ainda: podemos entender como feliz uma sociedade que se acotovela frente às vitrines de natal enquanto temos ainda tantos moradores de rua? Desconsiderar isso pode ser algo normal?



4.501

Gosto do Fluminense. Amo o Fluminense. Não tenho paciência para torcedores desagradáveis que se julgam senhores da razão. Futebol não tem propriamente lógica e nem é ciência exata. Às favas com os chatos que só vêem defeitos porque o time não foi campeão este ano; não passam de carpideiras rancorosas oferecendo seu licor de ridículo ao eleitorado. Estamos na Libertadores e vamos brigar com títulos em 2012. O resto é idiotice barata ou prepotência que cheira a charlatanismo.



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co
gito
regur
gito
co

 
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tudo o que me veste é tempo
algo do que sonho é aurora
então desnudo-me em lágrimas
frente ao fim que me atordoa


¼


Tempo é arte, foi o que eu aprendi/ Não é dinheiro ou outra coisa que se conte/ É uma outra dimensão/ Toda vida vive da luz do sol/ Que se faltasse tudo então pereceria/ Foi o que eu aprendi de tanto ver se repetir/ Que anestesia, e eu já nem sentia, ia me destruir/ Mas não aconteceu, estou aqui/ Toda vida, eu quis tanto querer/ Como se não bastasse o que já me cabia/ Na esfera emocional/ Na verdade eu sou outro você/ Tanto que enxergo em ti o que em mim não veria/ Foi o que eu aprendi de tanto ver se repetir/ Que anestesia, e eu já nem sentia, ia me destruir/ Mas não aconteceu, estou aqui (Lulu)

 
 
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Tempos modernos, hipocrisia jurássica.
 

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