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Saturday, September 27, 2025

noite casual

 COPACABANA SÁBADO, 18:30H

I

um jovem negro sobe a escada rolante do metrô Cantagalo com sua bicicleta espera e uma caixa bem grande do iFood.

antes dele, o escritor Osmar Lage tem pressa, pois precisa fazer uma ligação telefônica para sua esposa.

mais atrás, Paulo só pensa em comer pizza no eterno Caravelle, que agora se chama Pizzamar - senhor!

II

em segundos, os três chegam à esquina de Xavier da Silveira com Barata Ribeiro, e param por motivos diferentes. 

o rapaz da bicicleta encontra um amigo, também de bicicleta e caixa iFood similar, eles trocam alguma coisa nas mãos.

"mermão, só dois beques? preciso de nove pra entregar pros caras."

III

não se trata de zagueiros, é lógico.


cidade feliz

oh, linda e formosa cidade que me despreza, que vomita verdades em meu peito e mostra como sou desprezível e repugnante. está quase amanhecendo e a minoria viveu bem as últimas horas de boêmia. aos poucos, o céu troca seu negrume pelo azulado que vai clareando lentamente. no coração da cidade, os notívagos se divertem com seus últimos goles e tragos, enquanto os miseráveis catam latinhas para a sobrevivência pesada do dia a dia - e são quase todos pretos. nos arredores muitas pessoas infelizes agonizam nas calçadas, mas há quem acredite que isso seja democracia. a um quilômetro do epicentro das danças e cantos, a violência aterroriza homens, mulheres e crianças na favela, depois de espalhando para ruas próximas - esta é uma cidade com segue de sangue. a diversão popular não tem compromisso com a justiça social. daqui a pouco o sábado raia, setembro também raia e ninguém derramará uma única lágrima pelos meus amigos e amores mortos - e daí? ninguém precisa se importar. nunca o fizeram mesmo. tudo bem. com um pouco de sorte os mais abonados voltarão bem para suas confortáveis casas. desesperado, vivo minha serenidade particular. a cidade me detesta e despreza, não sou um CNPJ rentável nem dito normas econômicas. eu sou apenas minha voz, minhas palavras improvisadas, meu sentimento de luta e minha briga por um mundo menos cruel, mas é perda de tempo - as pessoas desprezam tudo que não é capital, poder ou voto. horas atrás, soube de um cachorrinho que estava jurado de morte por traficantes sanguinários. a barbárie superou todas as espectativas. o que resta é desmaiar até a morte. @p.r.andel

Saturday, September 20, 2025

uma noite de paz no rocha

tivemos uma noite de paz. uma única. comemos churrasco e falamos de futebol enquanto os jovens cantavam rock n'roll - eu pensei em "moonlight paranoia". as crianças correndo e rindo felizes, os adultos tão elegantes em sua simplicidade e simpatia. a poesia dos jovens me levou aos velhos tempos de faculdade, quando toda sexta feira era noite de drinques e risos. fomos ao bar do Canuto, no Rocha, que eu não visitava desde o tempo em que Ana Paula gostava de mim. nem tudo foi bom porque minha deusa negra chorava ao longe, logo ela, tão querida, mas compreendo - não se pode vencer todas. era o aniversário do Edgard, nosso querido amigo. foram o Fábio e o Robertinho. foram horas de paz, onde pudemos viver a deliciosa ilusão de um mundo simples e calmo. deixei de lado todos os dissabores, eles ficam para segunda-feira. meu coração está batendo melhor, acho. fomos tão felizes juntos que até rimos quando as contas do Fluminense, feitas com matemática lisérgica, chegaram no WhatsApp. o Rocha é perto da UERJ e isso traz coisas boas, bons presságios. fomos felizes com coisas simples, sem desprezar ninguém e isso é bom demais. tiramos fotos abraçados porque é importante - nunca sabemos quando será a última. a noite não acabou: comi bolo delicioso, pensei no amor, lembrei dos poucos mas valiosos amigos e não senti a menor falta de gente falsa, mesquinha. ainda são cinco da manhã e preciso dormir um pouco. ainda não sei o que será do sábado, mas depois de me sentir com 27 anos aos 57 de idade, estou pronto demais para este dia de folga.

@p.r.andel