Quarenta anos por extenso, 40 anos.
Tudo passa tão rápido, mas ao mesmo tempo 40 anos parece tempo demais.
É que vivemos ocupados, apressados, temos que lutar pela sobrevivência, nunca temos o tempo devido para viver. O jeito é tentar espiar a paisagem pela janela do trem ou o reflexo da janela no metrô.
De repente, tô olhando para a televisão e acabou o verão de 2024. Alguma coisa me teletransporta para 1984. São 40 anos.
Os 40 anos da estreia do Sambódromo maravilhoso no lugar do eterno entra e sai das ferragens de João Mendes na Marquês de Sapucaí.
Lá se vão 40 anos dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Quem se lembra de Mary Lou Retton? E da bela canção tema do evento cantada por Christopher Cross, “A chance to heaven”?
Talvez 40 anos para se pensar no título do grande livro de George Orwell.
Ou quando eu era garoto de Copacabana, ainda ia à praia e gostava dos horários mais desertos possíveis, de preferência no comecinho da manhã. É uma das mais belas paisagens da natureza humana.
Há 40 anos eu acampava num dos lugares mais lindos do Brasil, o Forte Imbuí. Numa tarde nublada de setembro, naveguei pelo semblante de uma garota linda, com seu olhar perdido vagando pelo Atlântico Sul.
Em 1984 eu também estava num dos meus melhores Réveillons. Coisa de garotos. Eu, Fredão, duas amigas lindas. A gente lanchando no Gordon. Nosso atendente predileto era um jovem negro magrinho. Seu nome era Misaque. Atendia todo mundo bem. Gente boa, carioca.
Há 40 anos, meu Fluminense pintava e bordava no Maracanã, no Morumbi e em qualquer campo do mundo. Ganhou o campeonato brasileiro, o carioca e passava o trator. Era o Fluzão demolidor rei dos clássicos e dos títulos. Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Jandir, Deley e Assis; Romerito, Washington e Tato. E Vica, Leomir, Renê, Paulinho e Parreira, um monte de gente.
Há 40 anos a gente descobriu um certo Ayrton Senna da Silva, que apareceu para o mundo com sua Toleman deixando todo mundo tonto.
Ah sim, há 40 anos Mick Jagger estava no Brasil. Começava uma guerra fria dentro dos Rolling Stones que duraria alguns anos, até a volta apoteótica da banda no final dos anos 1980.
Há 40 anos tinha o Canecão. Grandes shows a preços populares, era fácil para ir e voltar de ônibus. Tudo era mais tranquilo. Agora com os preços explosivos, o jeito é ficar vendo os festivais na televisão. E, claro, a qualidade das bandas caiu muito, mas justiça seja feita para não viver só de saudosismo: achei bem legal o show do Arcade Fire no Lollapalooza.
Eis os 40 anos das multidões brasileiras nas ruas pedindo a volta à democracia, as Diretas Já. Um sonho que talvez até hoje a gente não tenha vivido direito. Tivemos bons momentos e outros, terríveis.
Senhor, como pode ter tanto tempo assim? Tudo foi outro dia, eu lembro dessas coisas todas com muita facilidade. Como podem ter escorrido 40 anos desse jeito? Bem disse o poeta: o tempo não para.
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