ainda é tão cedo, tão cedo. todos deveriam estar descansando bem agora, mas não estão. há quem não descanse nunca, por vários motivos. ainda é muito cedo, mas o dia já está aí. e com ele, tudo. lá longe, os trens estão cheios e os ônibus amassam as pessoas. cá perto, os mortos-vivos gastam suas lágrimas em vão. ainda é tão cedo mas tudo está sem sentido. a alvorada ainda está escondida pelo azul cobalto do céu. as padarias ainda nem abriram, mas a fome já se espalha pela promessa da manhã. alguns carros cortam o silêncio sepulcral. ninguém diz nada. não há o que ser dito por ora, exceto em frases mofadas no WhatsApp como "se cuida" e "fique bem", delicadas maneiras de se dizer "problema teu" ou "fod@-se" - não! hipócritas mesmo! mais um dia na história da sociedade que não tem o menor compromisso com o social, os sócios e as associações. mais um dia repleto de caras de paisagem, visualizações sem resposta, diálogos abandonados, opressão, melancolia, indiferença. "Se cuida". "Fique bem". é melhor ser surdo ou analfabeto. ainda é tão cedo que o verdadeiro descanso deveria ser universal, mas se trata de uma utopia: muita gente não descansa, mas desmaia. enquanto isso, corações perfeitos procuram amores destruídos em vestígios de redes sociais, o silêncio é uma distância incomensurável e, bem versado pelo poeta, só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção. só o acaso. só.
@p.r.andel
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