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Sunday, April 17, 2022

em nome do pai

Hoje meu pai faria 81 anos. Por si só, já seria uma data difícil mas, nos últimos tempos, todos os dias têm sido muito difíceis. Ninguém tem ideia. 

Vivemos quase 40 anos juntos. Houve muita dificuldade mas alegria também. Por diversas razões, dialogamos muito menos do que o devido, mas o saldo foi positivo. 

Minutos antes de morrer, ele me chamou para me devolver uma grana que eu havia emprestado. Era pouca coisa, mas seu último gesto descreve exatamente quem ele foi. Um cara que teve muitas dificuldades, que sofreu paca e, involuntariamente, fez outras pessoas sofrerem, mas que sempre foi de uma dignidade enorme. 

Desde então, tenho tentado fazer coisas boas, praticado o bem (discurso sem ação não passa de falácia) e sobreviver. Espalhei o Andel por vários lugares, na internet, na TV, no rádio, em livrarias e bibliotecas. Certamente li e ouvi mais Andel nos últimos 12 anos do que nos 42 anteriores. Enquanto isso, vi o amor e o ódio, as raras amizades e muita falsidade, a escassa generosidade e os múltiplos jogos de interesses. A praxe do ser humano, enfim. 

Apesar de ser naturalmente o meu sobrenome, quando falam Andel eu penso no meu pai. Quando leio as capas dos livros eu penso no meu pai. Quando falam o sobrenome, a ele ergo o pensamento. Enquanto ainda estiver por aqui, sigo buscando a valorização do Andel, não a mim, mas a meu pai, meu avô que não conheci, a uma longa história que fala de dor, de amor e de coisas simples, mas sinceras demais. 

@pauloandel

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