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Sunday, October 10, 2021

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Vendo o show do Leo Jaime no CCBB, bem divertido pela TV. Banda azeitadíssima e ele faz uma mistura do próprio repertório com covers bem legais. Apesar da chuva, o pessoal deve estar se divertindo com a apresentação. Outra coisa que é um barato: o Leo não está nem aí para aparência, sendo que foi um dos grandes dons juans daquela época. 

Gosto de ver mas carrego comigo um misto de sentimentos. A música é forte e te teletransporta. Aquele período que vai de 1985 até 1991, 1992, foi uma turbulência na minha vida. Tudo era difícil, mesmo que agora seja pior. E para mim mistura tudo: momentos bem legais com outros tristíssimos. Eu queria ter de volta as pessoas que se foram, o que é impossível, mas não exatamente voltar no tempo. 

Tinha escotismo, muita música, a casa do Fredão, a UERJ maravilhosa, corrida na praia, mas também a luta para trabalhar, a pobreza, o alcoolismo em casa, uma pressão enorme que, no fim das contas, até hoje não passou direito. Uma vida louca de Copacabana a Jacarepaguá, passando em Irajá, Madureira e Méier. Tudo de ônibus, claro. 

Naquele tempo eu já escrevia mas tinha vergonha de mostrar para os outros. Demorou muito até eu conseguir ser publicado, mas aconteceu e dali em diante não parou mais. 

Agora o Leo canta Legião. Dá para ouvir e lembrar das pessoas, dos amigos, seus risos e roupas. A gente comprava pão para lanchar com Alouette de ervas finas, e depois jogar cartas enquanto ouvia LPs. Quando sobrava um trocado, passeávamos de jardineira pela orla. O pessoal gostava de ir para a Zoom escutar o que o Gustavo tocava, mas eu não gostava de boate e danceteria - às vezes ficava sentado na areia sozinho, olhando para o horizonte do Atlântico Sul e pensando o que seria da minha vida, uma resposta que até hoje eu não tenho. 

Entre a saudade e a melancolia, é incrível como um set de músicas faz você voltar 35 anos como se fosse algo da semana passada. Tinha tristeza lá, tem tristeza aqui. Pouca gente sobrou para contar a história - essas linhas não falam de 0,001% do que aconteceu. 

"Fórmula do amor". O que será isso? 

Será que é o fim do domingo frio e tristonho que sugere uma aula na escola pela manhã? Ou uma corrida para o aeroporto rumo a Brasília? Tudo isso já era. 

Sobrou um monte de gente sofrendo, chorando, morrendo ao vivo. Tem muita dor e sofrimento. Tem também um monte de gente recalcada e infeliz com o pequenino sucesso de quem quer que seja, mas não se pode ser injusto: tem uma galera gigantesca que torce muito, joga junto, vibra e agradece. É isso que, dentro ou fora desta rede social, chamamos "vida".

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