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Tuesday, February 16, 2021

os tempos

os tempos, os tempos

e as mãos estendidas à espera 

do nada

quase perto de algazarras 

inconsequentes

em nome da liberdade


sorrisos de um carnaval natimorto

à procura do agora sem amanhã


[os outros que se fodam


a manhãzinha de silêncios cruéis

e mais um dia que parece em vão


carros cheios de sofrência sertaneja

buscando vagas e corações no leblon


sempre em frente, sem sentido

sempre em desprezo ao bem 

comum

sempre em desperdícios

sempre a indiferença


numa terça-feira gorda e indigente

com céu de raios de sol em fevereiro

esperamos o ano que não começa

a promessa que não se cumpre

o afeto despedaçado em estilhaços

e lágrimas que não atenuam a dor


oh, cidade maravilhosa: rogai por nós

teus braços abertos já não abraçam

são os tempos, tempos modernos

onde somos primitivos ao extremo


os primeiros motores barulhentos

cortam as grandes avenidas à beira-mar

enquanto bailes de rua semeiam o fim: 

nunca fomos tão cariocas da gema! 


os mortos vivos do coração da cidade

estão desmaiados sobre as calçadas

- ninguém lhes dará bom dia ou tudo bem

- estamos muito ocupados, deixe-me em paz!


as esquinas estão cheias de ausência


@pauloandel

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