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Tuesday, February 25, 2020

para o verão que morre

o que me sobrou foi um par
de chinelos velhos e grandes
com eles, navego às ruas
sem pensar bem no futuro
nem no presente 
aterrorizante
e dou meus passos humildes
sem grandes conquistas
mas também sem falsos 
amigos
com seus discursos vazios
meus pequenos passos que 
não
me levam onde procuro
nenhum rastro de meus pais
meu irmão não dá um pio
de modo que são passos 
tristes
sozinhos, porém necessários
porque a vida é dos andarilhos
dos que atravessam muitas ruas
e colecionam nomes, fatos, sons:
as cores e pedras, a gente 
que passa
meus pequenos passos necessários
sem falsos abraços e risadas 
infelizes
mergulhando feito sangue nas 
veias
e artérias do que sobrou 
dessa cidade
o que me sobrou foi meu amor, que
tenho em hectolitros e toneladas
não existe sobrevivência sem
amor
apreço, bondade, solidariedade: 
o resto não passa de mentira 
oca
arrogância de corações primitivos
o supra sumo da vã verborragia
meu amor é um par de
chinelos grandes
que calço para caminhar rumo ao
outono
sem grandes vitórias, sem hipocrisia
sem trair quem ainda me
considera
dou meus pequenos passos 
confiantes
meus pés me desviam 
do mau caminho
a borracha não me deixa derrapar 
mais:
eu só preciso de um pequeno 
punhado

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