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Tuesday, May 01, 2018

primeiro de maio

em speito a todos os trabalhadores
e sua avassaladora maioria
de explorados, oprimidos
massacrados

os que choram todas as noites
por não dispor de um salário
mínimo sequer

os que vagam pelas ruas
entre o torpor e a desesperança

os esmagados, sufocados, ignorados
por um golpe vil e leviano

homens e mulheres, jovens e velhos
veteranos e absolutamente
iniciantes
esmaecidos ou brilhantes

amontoados em senzalas modernas

pelo direito supremo de comer
um lanche modesto
por dia

enquanto senhores de engenho
pensam em viagens, piscinas, iates
e veem o outro como um fardo
uma cena desprezível e torta
uma gentalha que devia realizar
trabalhos forçados e só

em memória de milhões de pessoas
mais maltratadas do que o gado
nas gares, nas vias, nas calçadas
enquanto gira a roda da fortuna
que será de muito poucos

em respeito aos milhões de humildes
que tentam vender seu único bem:
a força de trabalho
em troca de moedinhas e pão
e refrescos baratos
e humilhantes ônibus lotados
e enterros em covas rasas
fora do palco central

e dormem em barracos e casas
improvisadas enquanto o fogo do ódio esvazia todas as almas

e os corpos se decompõem
a céu aberto e pátria livre - o quê?

em respeito e memória a todos
os trabalhadores que vivem a dor
a depressão: vassalos
contemporâneos
desesperados ou até alienados
esperando o divino deus
do mercado
e sua generosidade que nunca se viu:
até quando haverá tanta
criminosa ingenuidade?

até quando o fingimento acortinará
a devastação e o rancor?

até quando a morte será celebrada em troca de terrenos livres, investimentos corporativos e pontos em bolsas?

não se pode esquecer dos bons patrões
que vão além de covardes exploradores:
quando existem, são bem-vindos
- o que lhes sabota é a raridade!

em respeito a apreço a milhões de brasileiros que diariamente entregam suas vidas, esforços e saúde

para sobreviver com mínima
dignidade
e se esgueiram
do desprezo
do ódio de classes
da ruindade em carne viva
da desumanidade
da desumanidade
da indiferença

a sociedade é uma grande senzala
enquanto navios negreiros da morte
correm em rios de asfalto
e janelas gradeadas

não há vagas: apenas
cochos

@pauloandel

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