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Saturday, December 05, 2015

farrapo humano

eu sou a tristeza
a miséria, a desesperança
e vivo em túmulos
nos olhinhos juvenis da pobreza
debaixo das marquises
ou entorpecidos demais
num arrastão à porta do teatro
eu vivo em túmulos
nas rugas precoces das operárias
em trens fétidos, lotados
também em suas varizes proeminentes
o meu sangue frio jorra em balas perdidas
e crânios inocentes despedaçados
eu sou a tristeza da fome nas ruas
a sujeira sem banho e roupas limpas
a indiferença das almas indignas
encarnadas em ternos finos
e pastas de dólares ilegais
eu sou a sede dos mendigos
o choro da criancinha com sua caixa de chicletes em vão
eu vivo em túmulos
nas canetas inescrupulosas
que assinam as sentenças de morte
nos açougues humanos, nas filas da ilusão
eu sou a tristeza de quem vê
a hipocrisia dos porcos golpistas
o cinismo dos traidores
o preconceito e a exclusão
eu sou o desprezo, a limpeza étnica
num sofisticado hall
sem transeuntes de chinelos
eu sou a decadência
de quem não percebe a dor do outro
de quem desdenha da mais nova vítima
as trapaças combinadas a priori
eu sou a festa da minoria
numa cobertura chique
enquanto a esquina mostra suas cicatrizes
meninas prostitutas, constrangidas
colocando a infância numa câmara de gás - eu sou a monstruosidade do deputado nazista
e o mundo é a república de oswald:
árvores, frutos e gente dizendo adeus - a isso chamam humanidade
pátria madrasta gentil!

@pauloandel

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