Enquanto ouvia agruras e risos de certa morena simpática e amiga num botequim familiar e vazio, coisa de poucas horas, espiava a foto de outra mulher linda e ausente, intensa e presente de alguma forma. Entre garrafas de Malzbier, nada fazia sentido e, ao mesmo tempo, tudo parecia tão conectado e lógico. Você ouve ao longe uma mulher que viveu o amor em vão. Você ouve a indiferença travestida de romance. Alguém carrega o celular na tomada perto do caixa só para não perder de vista mensagens desejosas. Estou cansado demais e preciso de uma cerveja. Sono, cansaço, tesão incubado, namoro de trem e a mesa ao lado se comove na prosa a respeito de duas belíssimas bailarinas à ribalta. Futebol não há, os bares morrem no frio de um sábado à noite. Nenhum dos admiráveis bebuns do balcão está de plantão. Frio, frio, os velhos botequins não merecem o frio de Agosto, nem o silêncio do Robertão, falecido quando menos se esperava. ENTÃO levanto de minha mesa solitária, pago a conta, caminho a largos passos em direção de casa, tomo o elevador por vários andares, ligo a televisão que faz cinema com o santo guerreiro contra o dragão da maldade. Grandes atores na tela abençoada. Estou sozinho e penso em pequenas devassidões, múltiplas. O amor é uma solidão fascinante. O mundo é solitário e defeituoso com suas cicatrizes, suas veias doloridas e sempre alguém estará do lado de quem vai vencer, fingindo comemorar a vitória do outro. O amor, o desencanto e a perda no passo delicado de duas bailarinas, enquanto o trem da história está paralisado na gare imaginária da Central do Brazyl. O Brasil não conhece o Brasil. O resto é uma enorme desimportância
@pauloandel.
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