Alguns jovens tão sãos, peles e músculos nus, grandes seios e coxas, todos inebriados com drinks baratos num posto de gasolina.
Outros jovens mortos em vida, apodrecendo debaixo de marquises, cheirando garrafinhas tóxicas ou fumando cachimbos de morte, menos pela onda e mais por fome.
Burgueses rancorosos namorando o nazismo, mostrando saudades da ditadura, de quem torturou, estuprou e matou, rasgando ventres e jogando cadáveres em riachos, tudo em nome de Deus e da família. Ou dando pinta porque os pobres e pretos invadiram os aeroportos e shopping centers como se tudo fosse uma velha geral do Maracanã.
E vai ter briga no boteco. E vai ter briga de torcidas.
As grandes livrarias da Barra são frequentadas por clientes de outros bairros. No entanto, as lojas de aparelhos celulares estão cheias.
Alguém disse que o mendigo tem que morrer ou que tem que tacar uma bomba na favela. Eis um alguém que não merecia ter nascido.
A bossa nova é foda mas ninguém presta atenção direito. O velho samba também e foda e fica barrado na alfândega.
A UERJ também é foda mas o governo do Estado faz questão de minimizá-la.
Você anda na calçada do Boulevard 28 de setembro e as partituras de Noel Rosa são tratadas com indiferença, embora o velho poeta esteja mais vivo do que nunca.
A janela está fechada em meu quarto neste outono tímido que ainda parece confuso. Não quero ver o luar e o sol. Olhar para o teto e mergulhar no infinito: cadê o meu amor que viveu nas folhas de papel? A madrugada se confunde com a alvorada. Ninguém liga.
Mais tarde, os Racionais vão trazer inteligência e sagacidade para o coração da Lapa. Não dormem tranquilos enquanto o mundo for injusto demais. Ainda temos boas esperanças.
Daqui a poucas horas vão comemorar os 50 anos de ditadura militar, tudo com os argumentos mais estapafúrdios possíveis, tentando justificar o injustificado.
Os escritores Garcez e Andel preparam o lançamento de seu novo livro de futebol no coração da República, dentro de duas semanas.
Pessoas sofisticadas e outras nem tanto, algumas nem de perto, olham com indiferença as exposições do CCBB. Talvez não entendam nada.
Enquanto os novos baianos passeiam numa velha garoa querida, os cariocas tão normais continuam não gostando de sinal fechado.
O Brasil ainda é medroso, conservador, cafona e sectário num trecho de seu coração, ao contrário de outras áreas sem arritmia. Mas há quem se deite em berço esplêndido de sangue por causa da violência estúpida.
Um velhinho conversa com um travesti no elevador sobre o clássico de domingo no Maracanã. É claro que isso cheira a Copacabana.
Outro velhinho passeia tranquilamente pela orla da praia, sem causar nenhuma desconfiança de que foi um torturador no quartel da PE. Aqui, a fragrância é de Ipanema/Leblon.
As pessoas batendo cabeça na Rio Branco às seis da tarde. Os mesmos mendigos na praça da Cruz Vermelha. A imponência do prédio do MEC é um atestado das coisas boas que podemos fazer.
As pessoas com os olhos estatelados em frente à televisão na hora do jantar, a morte da reflexão.
É proibido fumar.
É permitido matar.
Noite e dia, a metrópole e suas permanentes contradições.
Somos imperfeitos demais. Permissivos, acomodados, alheios ao bem comum, o que sugere horror.
Algumas coisas acontecem no cérebro do meu coração.
@pauloandel
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