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Wednesday, November 03, 2010

ADEUS, FASCISTAS




1

Mendel era um jovem estudante de Medicina na UFRJ quando testemunhou a ditadura militar no Brasil e suas atrocidades. Pouco tempo depois, ingressou no proibidíssimo PCB, o que lhe custou sucessivas detenções no famigerado DOPS, que fazia no Brasil mais ou menos o que os chuveiros ácidos faziam em Auschwitz. Cinco anos depois daquele patético, deprimente, pavoroso e nojento primeiro de abril, teve uma única opção: "sair" do Brasil para não ser morto, morar em Israel, revalidar seu diploma na universidade (o que não aconteceu com o Sr. José Serra) e, entre 1972 e 1987, trabalhar como psiquiatra do exército israelense. Antes disso, penou em delegacias, levou choques e uma das pancadas na cabeça lhe tirou a audição do lado direito. Faleceu em 1987, muito longe da simpática cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, onde viveu pouco tempo com seus pais, Taube e Favel Andel - estes faleceram quando Mendel era criança, criada posteriomente no internato do Instituto Hebreu-Brasileiro. Ainda teve dezessete anos de vida, ao menos. Escapou da morte ou do desaparecimento do corpo, tal como outros jovens daquela época. Alguns imbecis apontam que a ditadura apenas se defendia do terrorismo; por isso, deveriam ter seus diplomas escolares cancelados. Qualquer colegial sabe que não cabe a nenhum Estado a prática do assassínio de opositores a um eventual regime político.

Mendel não morreu como Stuart Angel ou Edson Luís. Estes tiveram a vida ceifada à vista por conta da estupidez da ditadura, com requintes de crueldade e covadia. Mendel também, só que morreu a prazo, em conta-gotas. Tiraram-lhe a família, o time de futebol, a pátria, impuseram-lhe outro lugar do mundo para viver e, obrigado pelas leis de seu novo país, acabou trabalhando diariamente no verdadeiro palco de horrores que era – e é – cuidar da saúde mental de soldados mutilados física e psicologicamente falando.

Havia Mendel, Stuart, Manoel, Edson, Carlos, Lucia, Dilma. Anos depois, alguns deles puderam voltar à vida civil brasileira. Outros carregaram as marcas da tortura para sempre. Muitos desapareceram: corpos banhados em ácido, outros carbonizados, outros repartidos pelos cavalos como se fazia no tempo do Brasil-Colônia.

Os idiotas, somente os idiotas, acreditam que a ditadura fez bem ao Brasil e que militares era torturados. Nunca se soube do desaparecimento de nenhum general, major, coronel ou capitão que tenha defendido a ditadura.

Mendel era meu tio.

Sua memória foi honrada com a vitória de Dilma Roussef nas eleições de domingo.


2

A vitória da Presidente Dilma tem várias facetas. Não poderia ter ocorrido em hora melhor.

Quarenta e seis anos depois de 1964, sepultar os cadáveres políticos que representam aquela época era mais do que preciso. O Brasil não precisa da opressão da Arena, do nacionalismo de gaveta da UDN. O que dizer de um partido que esconde suas próprias origens como é o chamado DEM? Colaboradores da ditadura, lacaios do republicanato norte-americano, defensores do coronelismo no Nordeste em 2010. Tiveram o resultado que lhes é justo: poucas cadeiras no parlamento, alguns postos de governo e uma sede enorme de que tudo dê errado para que tenham a chance de recuperar o poder, nem que seja de forma ditatorial, como já fizeram mais de uma vez.

Junto ao DEM, uma enorme mentira chamada PSDB e alguns lamentáveis papagaios-de-pirata como os senhores Roberto Freire, Fernando Gabeira e Marcello Cerqueira. Na periferia, os fracassos retumbantes de Marco Maciel, símbolo civil da ditadura, e César Maia, homem de ex-blog e ex-cidade musical.

O povo brasileiro é enorme e humilde, tem pouca escolarização em sua maioria, mas não é bobo, menos ainda burro. Às vezes, tem condescendência com corruptos, mas uma coisa é certa: não perdoa os TRAIDORES.

Quando menos se espera, as urnas sabem ser justas.


3

Falam da inexperiência de Dilma como se fosse possível cursar uma faculdade de Presidência da República. Eu vos pergunto: que experiência tinham os senhores FHC e Collor quando se tornaram mandatários da nação?

Falam que Dilma é um fantoche de Lula. Seria ruim a presidente manter as diretrizes de um governo que deu certo, ou elles estão apenas querendo o PODER e não o bem do Brasil?


4

Publicados os dados oficiais, fiquei comovido com o discurso de Dilma.

Lembrei de meu pai, de meu tio, da ditadura que infelizmente vivi. Lembrei de como eles mereceram ver um país melhor do que aquele no qual viveram.

Não deu tempo. Mas ainda estou aqui.

Como seria ter Leonel Brizola, João Goulart e Darcy Ribeiro naquele palanque?


5

“Tem mais é que tacar uma bomba na favela e explodir aquilo tudo. Tem que remover. Que nojeira esses pobres andando de celular no shopping. Que breguice desses pobres vindo à praia de metrô”

Delírios nazifascistas como este, publicado nas três linhas imediatamente acima, estão, felizmente, banidos da vida nacional.


6

Leio jornais diariamente há trinta e dois anos, mesmo aqueles com os quais não concordo ideologicamente.

Neste 2010, a calda escorreu para o chão.

Nunca as manchetes e conteúdos dos veículos impressos foram tão sujas, tão hipócritas, tão levianas contra uma candidatura. Os piores momentos de Collor 1989 foram à lona.

Golpismo barato que foi devidamente refutado no melhor palco: a urna.


7

Quase um ano depois, a ditadura da mídia não toca em um tema que pode gerar páginas e páginas policiais: onde surgiu a bela amizade – e posterior sociedade comercial – entre Verônica Serra e Verônica Dantas?


8

Lula.

Obrigado por tudo.


9

Para rir um pouco












Paulo-Roberto Andel, 03/11/2010

3 comments:

Anonymous said...

Meu querido amiGO, nem preciso dizer o quanto estou feliz, right??? Parabéns a nós! Vamos desfruutar esse lindo momento, fruto da nossa democracia, a cada dia mais amadurecida.

Bjs!

Lau Milesi said...

Choros :( e risos :) Muuuito legal, meu amigo querido. Faço das suas as minhas palavras, como dizia a minha tia, que teve o filho arrancado de casa na hora do jantar e nunca mais foi visto. Estou de alma lavada. Nunca vi um "analfabeto", como desrepeitosamente "alguns"se referem ao Presidente Lula, tão inteligente.
Não frequentou Sorbonne. Mas frequentou outra universidade, a da vida, a da vida sofrida, onde está a maioria da população. Mais um passo à frente. Vibrei muito, muito.

Os risos, e também muitos, ficam pelos vídeos. Miscelânea política. Doidinhos, vocês. Guarda essa bandeira hein...

Beijossss

E.T. O Elio está aqui em casa. Está doentinho e não está indo à creche.

Pedro Du Bois said...

Meu bom Andel, seu texto constrói um Brasil melhor e reconstrói o que (alguns) querem esconder. Somos, com certeza, o único país que não consegue limpar o seu passado. Escondem-no em aleivosias e mentiras repetidas. Sempre há quem acredite, não? Mas, não perdem por esperar: creio que a Dilma fará um governo ainda melhor.
Grato por suas palavras. Abraços, Pedro.