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Monday, July 05, 2010

DROUNGA?


I

Sábado à noite, mesa do Boteco da Praia, no bairro entre Botafogo e Catete. A comida é sempre boa, os garçons são sempre apressados em servir novos chopes.

Bruno, que é meu amigo e não é goleiro, longe disso, melhor definiu o que se passou na véspera, a meu ver:

- É bom mesmo que não tenha vencido porque, se conseguissem, iam achar que o certo é isso aí, xingar os outros, ser turrão, convocar mal, mostrar desequilíbrio. Não tinha como isso dar certo.

Não tinha mesmo.



II

Eu era criança quando Coutinho vetou Falcão e levou Chicão para a Copa de 1979. Os dois foram jogadores do meu time de botão. Falcão armava jogadas. Chicão, cabeça de área, jogava de beque improvisado. Talvez qualquer criança de dez anos, como eu era, soubesse que Falcão era melhor que Chicão, mesmo num time de botão.

Telê foi dos maiores de todos os tempos, mas também fez das suas. Quem tinha Adílio e Mário Sérgio voando não poderia ter aberto mão. O time, entretanto, era cheio de craques.

De lá para cá, é natural que todos os times brasileiros nas Copas do Mundo tenham jogadores que não são unanimidade. Como fazer isso com quase duzentos milhões de torcedores? Mas algumas coisas, de tão óbvias, beiram o ridículo. E ultrapassam qualquer barreira de paciência.

Para qualquer zagueiro do mundo, uma coisa é estar marcando o Luis Fabiano e ele ser substituído pelo pentacampeão Ronaldinho Gaúcho, duas vezes melhor do mundo. Outra coisa é se entra o Grafite, com todo respeito ao querido ex-atleta do meu querido São Paulo.

Levar Ganso e Neymar não significa ter personalidade e manter jogadores comprometidos com o “grupo”, mas sim ser suficientemente ignorante em não perceber que, diante de um adversário mais difícil, os dois em campo ao lado de Robinho formariam o entrosado ataque do time-sensação do primeiro semestre no futebol brasileiro, o Santos. Apenas isso.

Alguém na mesa, acho que o Moraes, me lembrou que, pela primeira vez na história, o Brasil entrou em campo e nenhum adversário, nem mesmo a fraquíssima Coréia do Norte, exerceu marcação especial em algum dos nossos jogadores. Isso era um (péssimo) sinal.



III

Qual o principal objetivo de se fazer treinos fechados para a imprensa?

Ensaiar jogadas.

Na Copa de 2010, o Brasil não tinha NENHUMA.



IV

“São jogadores com compromisso com a seleção”.

Michel Bastos é reserva de ponta direita no Lyon. Na seleção, lateral-esquerdo.

O veterano Gilberto é meia do Cruzeiro. Na seleção, lateral-esquerdo.

Kleberson quase foi assassinado pela torcida do Flamengo em seu último jogo no Maracanã, pelo campeonato brasileiro.

Kaká, excepcional jogador, mas claramente contundido e confuso demais com as coisas de Jesus Cristo, não tinha a menor condição de fazer a diferença.

Luis Fabiano não jogou um vigésimo do que quando atuou nas eliminatórias.

Ronaldinho Gaúcho não tinha comprometimento? E quando embarcou na canoa furada que era a seleção olímpica de 2008?

Concordo que Adriano fez demais em termos de tangenciar delitos, mas já que a seleção não é agência de matrimônio para casar a minha filha, não teria sido melhor levar o atacante imperial, deixa-lo treinando um mês e, quando possível, utilizá-lo em circunstâncias do jogo?



V

Sejamos claros: no primeiro tempo da derrota para a Holanda, a seleção brasileira não fez nenhum jogo maravilhoso. Coisa nenhuma! Nos primeiros dez minutos, os holandeses, atônitos, marcavam na defesa com dois zagueiros em linha. Tomaram um gol, poderiam ter tomado três. Passado o susto inicial, aos poucos se recompuseram e aí o Brasil não teve mais espaço. Quando veio o segundo tempo, Bert van Marwijk acertou sua zaga e o Brasil simplesmente acabou em termos de ataque. Como aconteceu muitas vezes em nossa história, quando a coisa estava preta poderia se apelar para a improvisação, o drible, o recurso técnico. Mas nossos melhores jogadores neste aspecto simplesmente não estavam na África. O jogo ficou igual, até que...



VI

... houve um frangaço.

Julio César é bom goleiro. Não é o melhor do mundo, como andaram inventando por aí. É um bom goleiro e só. Tem regularidade. Mas tomou um FRANGAÇO. Não me venham com história de Felipe Melo. Um goleiro de quase dois metros que sobe com as mãos não pode furar um soco na bola. Tendo ou não o tresloucado Felipe na jogada, a bola entraria do mesmo jeito. Foi apenas a cereja no bolo da velha tradição rubro-negra em Copas do Mundo, se é que me entendem. E foi justamente por causa do FRANGAÇO que falhou no segundo gol, ao nem se mexer no escanteio. O time, que já não era grande coisa, desabou com o empate “inesperado”. A vitória holandesa era questão de tempo, e só não se transformou numa goleada ao final porque os laranjas estavam mortos de cansados.

Na zona mista, Julio perdeu uma grande chance de mostrar o boa-praça que é. Bastava ter pedido desculpas aos torcedores por ter sido o principal responsável pelo primeiro gol holandês. Ponto.



VII

A vinte minutos do fim, Dunga, que realmente não entende NADA de futebol, precisando vencer o jogo, tira Luis Fabiano e coloca Nilmar, bom jogador, mas completamente franzino.

Não era hora de pressão na área?

E ele me tira o atacante que tem mais força física?



VIII

Não teve culpa no primeiro gol.

Mas é um completo imbecil.

Felipe Melo. Expulso do Grêmio, expulso do Cruzeiro e - pasmem! - expulso do Flamengo.

Podia servir bem à seleção brasileira com tal histórico?



IX

Poderia aqui listar mais dezenas de atos patéticos. O coerente Dunga zombando de um repórter que questionava o futebol de Robinho quando ele mesmo, Dunga, insistira anos atrás com AFONSO ALVES de camisa nove da seleção. O patetocrata Jorginho dando piti no desembarque na seleção no Rio de Janeiro, ao lado de seu olheiro evangélico. Poderia falar aqui de Julio Baptista, de Josué, da falta de esquema tático, da falta de jogadas ensaiadas, da falta de futebol-arte que ensinamos ao mundo, dos socos psicopatas no banco de reservas, das coletivas fanfarrônicas e debochadas, do neofascismo disfarçado de comprometimento. Do péssimo gosto das camisas de gola rollet. Prefiro continuar meu chope com os amigos.

Qualquer criança de dez anos, como eu fui um dia, sabia que tanto autoritarismo misturado à falta de competência não ia dar certo. Assim como vetar Falcão para levar o saudoso Chicão. Isso não se perdoa nem em time de botão.



X

Dunga? Já foi tarde.


Paulo-Roberto Andel, 03/07/2010

3 comments:

Pedro Du Bois said...

Grande Andel, lavei a alma com seu texto. Mesmo que possa não concordar aqui e ali. Fiquei com pena do Nilmar, assim como fiquei do Luiz Fabiano: ficaram o tempo todo "achando" que o Kaká voltaria à Terra e passaria (ou, melhor, lançaria) a bola para eles (costumo dizer que Nilmar cansou foi o braço, alto, avisando onde estava). É interessante notar como as pessoas se acostumam à sua (deles) burocracia: o Dunga sempre foi isso, nem mais, nem menos. Por vezes a mediocridade (como média) até pode ganhar (como em 94, apesar do Romário). No geral, é isso aí, alguém verifica o padrão, faz as adequações necessárias e o arquiva (morto). Abraços, Pedro.

Lau Milesi said...

Perfeito, como sempre, Paulinho. Outras "Droungas" devem ser elminadas do esporte,oooops , da cúpula do esporte.
Beijosss

Marcello Goulart Teixeira said...

Brou, so que nao teve copa em 79...