Digam o que disserem, morda-se a “imprensa oficial”. O Botafogo é o grande campeão.
O futebol é fascinante como esporte e espetáculo justamente por supostas surpresas que possa proporcionar. Falo da suposição porque quando há um campeonato no Rio de Janeiro, não pode ser surpresa que o Botafogo o vença, assim como o Vasco, o meu amado Fluminense e o time da Gávea. Trata-se de uma disputa centenária, com ao menos quatro grandes forças, não apenas uma como a esmagadora maioria da imprensa esportiva local tenta impor diariamente em sua comunicação.
Ninguém pode tratar o Botafogo como um pedinte.
Nunca.
Quem acompanha futebol sabe muito bem que, quando os clássicos acontecem, por mais que um pontual favoritismo possa ser cogitado, no campo isso não conta. Botinudos podem virar heróis, craques podem sumir do jogo, desconhecidos podem se consagrar. Mais do que tudo, as camisas se digladiam incessantemente pelo gol e pela vitória.
O Botafogo perdeu para o Vasco no primeiro turno por seis a zero. Foi uma derrota horrível, sem dúvida, mas o campeonato permitia uma reação. Lembro do “Kaiser”, o grande craque alemão Franz Beckembauer, quando trabalhou como treinador do Bayern de Munich e, ao enfrentar o Real Madrid num amistoso, perdeu por oito ou nove a um; indagado sobre o desastre, limitou-se a dizer que, diante da hecatombe, era melhor ter perdido aquela, por mais doloroso que fosse, do que perder nove partidas por um a zero, o que geraria uma crise no time e a sua inevitável demissão. Beckembauer, símbolo de talento no futebol e dos poucos humanos a ser campeão do mundo por uma seleção como jogador, capitão e, posteriormente, treinador. O exemplo valeu esplendidamente para Joel Santana: depois de sua chegada, o Botafogo venceu dignamente a Guanabara e só voltou a perder no campeonato quando podia, justamente para o meu amado Fluminense, para depois impor-lhe uma grande virada nas semifinais do returno, vencido ontem com tanta justiça e mérito pelos de General Severiano – e quem vira um jogo contra nós num momento decisivo sabe que o título é mais do que uma promessa. Mais do tudo, esse título mostra a todos que o Rio não tem só um time; relembra que, em anos anteriores, o Botafogo foi até melhor nas finais, mas tropeçou na amarga disputa de pênaltis – e o triunfo praticamente se consolidou ontem justamente num pênalti, cobrado pelo badalado Adriano e muito bem-defendido pelo goleiro Jefferson que, a meu ver, é hoje o melhor goleiro em atuação no país: sóbrio, tranqüilo, sem poses para câmeras ou declarações estrambóticas. Antes disso, a força platina de Herrera e Loco Abreu já tinha sinalizado o retrato em branco e preto que iria tomar as ruas da cidade.
Nas últimas décadas, conta-se nos dedos os times do Rio que conseguiram a façanha de liquidar a competição antes de uma final contra algum rival, ao vencerem os turnos disputados num mesmo ano. O Botafogo fez isso ontem e, portanto, é o merecido campeão. Falem o que quiserem, chorem os maiorais.
Como Tricolor, estou acostumado a títulos e triunfos, ao contrário do que a imprensa insiste em falsear, mesmo que os últimos anos não me tenham sido tão favoráveis. Mas a minha história está escrita, desimportando as falácias e fantasias de bicampeonatos num mesmo ano ou hexa sem penta. Nesta hora, a de ontem, foi bom invejar o Botafogo. Ressalto que a nós, das Laranjeiras, só cabe uma inveja que tenda ao positivo: a inveja de estar no lugar do grande campeão, que mereceu a conquista e que, tal como nós estamos acostumados a viver em nossa arquibancada, também não conta com as loas dos jornalistas.
Não há mais Garrincha nem Nilton Santos nem Didi em campo. Nem para o Botafogo, nem para nenhum outro time. São deuses que fazem parte do Olimpo da Bola. Isso, no entanto, não quer dizer que não se possa ganhar novos títulos, desafiar novos paradigmas ou contestar definições. Aí está o Botafogo que não nos deixa mentir. Aí está o grande campeão e isso é um fato. Às favas com o deboche de considerá-lo fraco; não nos cabe a cegueira da burrice teimosa e nem da idiotice da objetividade, como nos ensinou Mestre Nelson Rodrigues. Quem vence a Gávea com a autoridade de dois jogos decisivos e, antes, tira o Fluminense do páreo, merece o certame.
Todos os parabéns aos alvinegros. Poucos times no mundo saberiam superar uma goleada estrondosa com tamanha galhardia e superação, descritas nos números da competição. A resposta colossal foi o título, mais do que merecido e capaz de devastar até impérios.
A estrela solitária continua com multidões a seu lado. Sempre será assim. Sempre, nunca menos do que sempre.
Paulo-Roberto Andel, 19/04/2010
O futebol é fascinante como esporte e espetáculo justamente por supostas surpresas que possa proporcionar. Falo da suposição porque quando há um campeonato no Rio de Janeiro, não pode ser surpresa que o Botafogo o vença, assim como o Vasco, o meu amado Fluminense e o time da Gávea. Trata-se de uma disputa centenária, com ao menos quatro grandes forças, não apenas uma como a esmagadora maioria da imprensa esportiva local tenta impor diariamente em sua comunicação.
Ninguém pode tratar o Botafogo como um pedinte.
Nunca.
Quem acompanha futebol sabe muito bem que, quando os clássicos acontecem, por mais que um pontual favoritismo possa ser cogitado, no campo isso não conta. Botinudos podem virar heróis, craques podem sumir do jogo, desconhecidos podem se consagrar. Mais do que tudo, as camisas se digladiam incessantemente pelo gol e pela vitória.
O Botafogo perdeu para o Vasco no primeiro turno por seis a zero. Foi uma derrota horrível, sem dúvida, mas o campeonato permitia uma reação. Lembro do “Kaiser”, o grande craque alemão Franz Beckembauer, quando trabalhou como treinador do Bayern de Munich e, ao enfrentar o Real Madrid num amistoso, perdeu por oito ou nove a um; indagado sobre o desastre, limitou-se a dizer que, diante da hecatombe, era melhor ter perdido aquela, por mais doloroso que fosse, do que perder nove partidas por um a zero, o que geraria uma crise no time e a sua inevitável demissão. Beckembauer, símbolo de talento no futebol e dos poucos humanos a ser campeão do mundo por uma seleção como jogador, capitão e, posteriormente, treinador. O exemplo valeu esplendidamente para Joel Santana: depois de sua chegada, o Botafogo venceu dignamente a Guanabara e só voltou a perder no campeonato quando podia, justamente para o meu amado Fluminense, para depois impor-lhe uma grande virada nas semifinais do returno, vencido ontem com tanta justiça e mérito pelos de General Severiano – e quem vira um jogo contra nós num momento decisivo sabe que o título é mais do que uma promessa. Mais do tudo, esse título mostra a todos que o Rio não tem só um time; relembra que, em anos anteriores, o Botafogo foi até melhor nas finais, mas tropeçou na amarga disputa de pênaltis – e o triunfo praticamente se consolidou ontem justamente num pênalti, cobrado pelo badalado Adriano e muito bem-defendido pelo goleiro Jefferson que, a meu ver, é hoje o melhor goleiro em atuação no país: sóbrio, tranqüilo, sem poses para câmeras ou declarações estrambóticas. Antes disso, a força platina de Herrera e Loco Abreu já tinha sinalizado o retrato em branco e preto que iria tomar as ruas da cidade.
Nas últimas décadas, conta-se nos dedos os times do Rio que conseguiram a façanha de liquidar a competição antes de uma final contra algum rival, ao vencerem os turnos disputados num mesmo ano. O Botafogo fez isso ontem e, portanto, é o merecido campeão. Falem o que quiserem, chorem os maiorais.
Como Tricolor, estou acostumado a títulos e triunfos, ao contrário do que a imprensa insiste em falsear, mesmo que os últimos anos não me tenham sido tão favoráveis. Mas a minha história está escrita, desimportando as falácias e fantasias de bicampeonatos num mesmo ano ou hexa sem penta. Nesta hora, a de ontem, foi bom invejar o Botafogo. Ressalto que a nós, das Laranjeiras, só cabe uma inveja que tenda ao positivo: a inveja de estar no lugar do grande campeão, que mereceu a conquista e que, tal como nós estamos acostumados a viver em nossa arquibancada, também não conta com as loas dos jornalistas.
Não há mais Garrincha nem Nilton Santos nem Didi em campo. Nem para o Botafogo, nem para nenhum outro time. São deuses que fazem parte do Olimpo da Bola. Isso, no entanto, não quer dizer que não se possa ganhar novos títulos, desafiar novos paradigmas ou contestar definições. Aí está o Botafogo que não nos deixa mentir. Aí está o grande campeão e isso é um fato. Às favas com o deboche de considerá-lo fraco; não nos cabe a cegueira da burrice teimosa e nem da idiotice da objetividade, como nos ensinou Mestre Nelson Rodrigues. Quem vence a Gávea com a autoridade de dois jogos decisivos e, antes, tira o Fluminense do páreo, merece o certame.
Todos os parabéns aos alvinegros. Poucos times no mundo saberiam superar uma goleada estrondosa com tamanha galhardia e superação, descritas nos números da competição. A resposta colossal foi o título, mais do que merecido e capaz de devastar até impérios.
A estrela solitária continua com multidões a seu lado. Sempre será assim. Sempre, nunca menos do que sempre.
Paulo-Roberto Andel, 19/04/2010
6 comments:
Querido amigo, generoso como sempre.
Realmente foi uma inquestionável vitória, um inquestionável campeonato.
Depois desses 3 últimos anos, de baixarias e chorôrô, meu Botafogo é Campeao Estadual.
Meu, seu e de todos, pela historia que tem.
Forte Abraço,
Marcello, o Valença (ainda te devendo o -e precisando do- chopp)
Grande Paulo. Ótimo texto, escrito por alguém que gosta de uma boa e justa batalha. Escrevi uma visão bem particular sobre a vitória de uns e a derrota de outros:
http://www.omartelo.com/blog/
Obrigado por nos chamar de irmãos. todos nós somos um.
Obrigado Paulo, por essa ótima crônica. Não apenas por ser uma crônica comemorativa do título do meu Fogão, mas por ter sido bem escrita e acima de tudo sincera.
Eu ja declamei para ti a escalação da Máquina Tricolor e posso entender o que te move. Quem gosta de bom futebol, mas futebol honesto, gostou da vitória do meu time.
Entre os meus ídolos da juventude está uma figura que fez história no Botafogo, no teu Flu e no Vasco. Seu nome era Dirceu. Sua característica principal era o grande talento aliado a um profissionalismo e dedicação total. Acredito que pessoas assim é que merecem ascender à condição de exemplos para a juventude. Leniência e vadiagem nunca deveriam vencer o trabalho e a dedicação, o que infelizmente ocorre.
Felizmente, dessa vez não ocorreu.
Obrigado Paulo, por essa ótima crônica. Não apenas por ser uma crônica comemorativa do título do meu Fogão, mas por ter sido bem escrita e acima de tudo sincera.
Eu ja declamei para ti a escalação da Máquina Tricolor e posso entender o que te move. Quem gosta de bom futebol, mas futebol honesto, gostou da vitória do meu time.
Entre os meus ídolos da juventude está uma figura que fez história no Botafogo, no teu Flu e no Vasco. Seu nome era Dirceu. Sua característica principal era o grande talento aliado a um profissionalismo e dedicação total. Acredito que pessoas assim é que merecem ascender à condição de exemplos para a juventude. Leniência e vadiagem nunca deveriam vencer o trabalho e a dedicação, o que infelizmente ocorre.
Felizmente, dessa vez não ocorreu.
O futebol é uma obsessão, e os seus escritos nos tornam obcecados, viciados. Você é um ótimo escritor.
As palavras se enfileiram certas,obedientes e consequentes, prendem-nos até o ponto final. E, diferentemente do esporte bretão, não é obra do acaso.
Eu vi o parte do jogo, e percebi nos minutos finais aquela algazarra de adrenalina, alguns querendo muito e outros querendo mandar a bola pro mato. Uma orgia mental. Ganhou o que mereceu ganhar. Um brax.
O Fogão mereceu sua bela crônica, querido amigo tricolor.
Beijosss e braxxxx (es)
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