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Saturday, December 01, 2007

IMPRESSÕES - A pátria da debilidade

Tal como tantos outros brasileiros, senti-me humilhado e chocado ao pensar sobre o que seria a chamada cidadania num país que, por força de "contingências", permite que uma adolescente detida por furto seja presa numa cela com uma dezena de detentos, sendo estuprada várias vezes ao dia em troca de comida, água ou outras necessidades básicas, e ainda sendo filmada por "policiais" através de aparelhos celulares, que registraram criminosamente o horror do pior crime contra a mulher - conforme soubemos ocorrer no Pará, após ampla divulgação na mídia. O Estado, que deveria garantir segurança a qualquer cidadão, preso ou não, é promotor de tamanha crueldade através da polícia - inspetores e delegado (a), que conduziram o nefasto processo.

Dias depois, para tentar explicar o inexplicável, foi a Brasília o então chefe da Polícia Civil paraense, cujo nome não será citado neste texto por absoluta indignação. Coroando o show de atrocidades que envolveu tal caso, o dito chefe referiu-se à adolescente torturada como uma "débil mental", por, em nenhum momento, ter afirmado ser "de menor". Em suma, a culpa de todo o sofrimento que a garota sentiu, para o dito chefe delegado, era dela mesma. Sabemos que, no Brazyl, quase tudo é possível - mas aí, neste caso, passaram da conta. Palhaçada tem limite. O chefe perdeu o cargo. Que descanse em paz.

Será que é preciso comentar o desrespeito constitucional quanto ao fato da proibição de homens e mulheres presos dentro de uma mesma cela?

No próprio Pará, outros casos semelhantes foram denunciados. Não é problema de lá, bem sabemos. Procurando-se, acha em outras praças.

Dizem ser o Brazyl um país pacífico. Não temos guerra.

Com as cadeias que temos, e certos policiais, não precisamos de nenhuma Bagdad.

No mais, o dito chefe desrespeitou um coletivo de portadores de necessidades especiais, relacionadas a questões de saúde mental.

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Alguém imaginaria Suzane Von Richthofen numa cela com homens? Isso aconteceria hipoteticamente?

Nunca.

Suzane, que não está presa por furto, como a pobre menina paraense, mas pelo vil assassinato de seus próprios pais a pauladas, é um símbolo de perversidade.

Loura, bonita e rica. Jamais passaria por situação semelhante de estupro na cela, a não ser que quisesse.

A prisão no Brasil tem várias faces. Cada uma delas, de acordo com a condição financeira do detento - e isso faz pensar sobre o que é realmente no Brazyl a chamada "livre iniciativa".

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Apesar de cobertura televisiva compatível com o tamanho da atrocidade, a vergonha registrada no Pará perdeu terreno de mídia para os chamados "devaneios" de Chávez.

"Ditador" de plantão, segundo as autoridades jornalísticas.

Olhando para nossas próprias cadeias, deveríamos pensar sobre a tortura nelas praticada - provavelmente muito pior do que o resultado de todos os possíveis atos ruins de Chávez até a data de hoje, como comandante bolivariano.

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Juvenal foi um bom zagueiro. Sofreu o pão que o diabo amassou na Copa de 1950.

Naqueles tempos, boleiro não ganhava milhões de dólares.

Juvenal parou, ficou pobre, doente. Depois, miserável. Ainda vive, numa casa de pau a pique, oitenta e nove anos. Tem artrose, não anda. Deu no Fantático. Juvenal não viu, pois não tinha televisão. Depois ganhou uma velha, de presente.

O Brazyl é sede da Copa de 2014. Juvenal jogou no Flamengo e no Palmeiras.

De Parque Antactica, a única notícia é a de venderem um kit com pedaços de grama do Estádio Palestra Itália, mais um poster e um CD com o hino do clube, cantado pelos cracks da pelota. Setenta reais.

Márcio Braga, presidente do CRF, afirmou que "se o clube não puder ajudar Juvenal pessoalmente, ele mesmo o fará do próprio bolso". O Flamengo quer comprar o Maracanã e não pode ajudar Juvenal?

Palhaçada tem limite.

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A CBF, claro, não se manifestou.

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Somos ou não uma pátria marcada pela debilidade?

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Paulo-Roberto Andel, 30/11/2007

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