Lembro-me de que uma menina era linda
Logo à vista fitei seus olhos esverdeados e faiscantes
Trajava uma roupa poída, porém tratada e honesta
Alguns traços cinzentos cobriam os braços maltrapilhos
Esmolados, esfomeados na escada da estação de trem
Que avizinhava-se da Rua da Matriz
Eu, nós, eu, criança tomada pela mão, trazida pelo pai
Era menino de longe, muito longe, outra Copacabana
Ela era pedinte, talvez filha da outra mendiga na parte baixa
Chorando pelas moedas aos pés da mesma escada
O pai me passou na roleta, eu despedi-me com o olhar para nunca mais
Não sei dizer da formosura de seu rosto, as formas, outros detalhes
Cabe-me apenas recordar de sua candura e seu olhar
Brilhante, colorido, desesperado, fugidio
Não haviam ensinado-me o que eu tinha acabado de sentir
Um breve instante que há muito trago no peito, na memória
E sempre recordo toda vez que a mulher mais linda
Já vista pelos doces olhos do meu cansado coração
Surge à minha frente, de repente, em trajes vermelhos, pretos
Volto a ser criança e me espanto com a imagem distante
É o amor que me remota à beleza da mulher, a leveza da menina
Que mora eternamente na mendicância, em qualquer escadaria
Que faça às vezes daquela, perto da Rua da Matriz
Onde estará a menina? Viva? Linda? Vadia?
Onde morrerá a menina? Perdida na esquina?
Onde reside o amor que inunda minh’alma desde a infância?
Perto de algo que lembra Cristo?
Longe de tudo o que fala de Deus?
Paulo Roberto Andel - 20/07/06
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