há muitos anos tenho
visto as dores
o sofrimento
dos outros o meu
todos parecem tão
felizes enquanto
choro - ninguém repara
ou finge não perceber
tenho sido testemunha
das misérias infinitas
da indiferença e até
do ódio cru e rijo
já vi de perto os dramas
as tragédias as mortes
o desespero e muitas vezes
não encontrei
outras lágrimas além
das minhas
ah, as pessoas estão
ocupadas
elas têm suas vidas
ou estão desinteressadas:
ninguém tem culpa
deste mundo injusto
e cruel exceto
a raça humana
agora vejo a melancolia
a violência o ódio
o assassinato por nada
ou quase nada ou qualquer
coisa - a selvageria venceu:
ela mora nos discursos
dos homens brancos de bem
e também nos porretes dos
bandidos pretos e brancos
ou de qualquer outra pele
agora vejo o passado em
remake: a idade média tem
smartphone o crime tem
piratas e quadrilhas selvagens
enquanto se mija e caga
nas ruas tão carnavalescas
agora o futuro é ontem
a esperança virou desprezo
e só falta acontecer de vez
a nova guerra dos cem anos
as cruzadas os corpos
estraçalhados por cavalos
as cabeças decapitadas
tudo está aí no jornal nacional
e o contragolpe não será
televisionado o contragolpe
não será televisionado
ainda somos os mesmos
e vivemos chicoteados
por manchetes editadas
por farsas golpistas e mãos
estendidas à espera de
uma esmola em salvação
há muitos anos tenho sido
o menino mais triste
do mundo
não importa quem esteja
ao meu lado a cada passo
eu choro pelas dores de tudo
e sou o menino mais triste
do mundo ainda mais agora
que o fim parece tão mais
perto do que o começo
mas as pessoas estão felizes
ou fingem estar felizes
- o errado sou eu certamente
não sei enganar a mim mesmo
e sei que o tempo é cada vez
mais escasso e rápido, rápido
minha dor reside em testemunhar
a grande ilusão do mundo
e toda a minha impotência
não salvarei nem a minha vida
triste e deprimente vida - não:
eu não tenho mais tempo
nem força nem esperanças
em deixar um pedacinho
de terra melhor do que encontrei:
nem terra eu tenho!
o que me restou foi procurar
beleza em meio a uma
tempestade interminável
minha dor respira, inspira, respira
sem ajuda de aparelhos sem atenção
caridade ou amizade sem mais ninguém
a minha dor é o que me basta
@pauloandel
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