Quem se lembra do que estava fazendo há exatos onze anos neste momento? Eu cochilava às nove da noite e não sabia que minha mãe estava morta no quarto. Meu pai só percebeu à meia noite e então passei a pior noite de toda a minha vida. Era cedo demais: ela mal completara 61 anos. Morreu dormindo, como merecem os melhores.
A dor mudou minha vida. Eu já escrevia desde os anos 1990 mas não levava muito a sério - a ponto de ter desperdiçado a oportunidade de colaborar com uma revista dirigida por dois vencedores do Prêmio Jabuti. Mas em 2007 tudo mudou: para ocupar a minha cabeça cheia de tristeza, passei a escrever, escrever, escrever e, quase num golpe de sorte, publiquei meu primeiro livro. De lá para cá, já ganhei muitos abraços na rua e em jogos do Fluminense, emocionei muitas pessoas que me agradecem reservadamente, virei amigo dos meus ídolos e o próprio Flu me homenageou. Ok, isso também atraiu gente falsa, interesseira e oportunista, mas só recebe bajulação e pedradas quem está na moda. Foi mal...
Conheci grandes pessoas, fiz rir e chorar muito, juntei amigos - o que nem todo mundo suporta -, e tenho sido um ótimo escritor, sem falsa modéstia. Para quem acha futebol um assunto menor, os Cenas do Centro do Rio aí estão.
A minha diferença primordial para muita gente deslumbrada por aí está num ponto: não comecei nisso em busca do mundo dos likes, dos compartimentos e da "fama" (quantas pessoas são realmente famosas num mundo com transbilhões de pessoas?). Nada disso: quando saiu meu primeiro livro, há sete anos, eu nem tinha Facebook - e o fiz por sugestão de amigos e da editora, para divulgar o trabalho.
O que me trouxe até aqui, quinze livros depois, entre solos e coautorias, foi a tentativa - em vão - de ocupar a minha cabeça depois de perder minha mãe. Isso nunca mais vai mudar e vale para meu pai, minha família, as pessoas queridas. Às vezes choro, todo dia tenho uma saudade de Madredeus, eu me pego pensando em algum momento e então escrevo.
Foi por isso que, um dia, muitos de vocês me conheceram. A todos, um grande abraço e muito obrigado.
1 comment:
Completarei 1 ano em abril, sinto saudade e ao mesmo tempo alívio...o alzheimer é triste.
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