debaixo da sombra fria dos arranha-céus
há corações dilacerados
e mãos estendidas em vão: ninguém quer prestar atenção
homens de bem passam apressados
com suas gravatas importadas
e ternos muito bem cortados:
não há mais tempo a perder
quando se quer o Brasil de volta
- oh, retumbantes panelas!
o Brasil, a terra em transe
aquele outro, lindo e assassinado
com suas malas de dólares
e mortes a sangue-frio
choques de ordem e correção
a pátria amada de manchetes em pé
e mentiras na contramão
a cultuarem as senzalas modernas
os garimpeiros caçam pedras de morte
ao léu
a morte à vista sem constrangimentos
e passamos fingindo não ver
- estamos ocupados demais
ou acreditamos em um porco nazista
e aplaudimos um engomado calhorda
céus! céus! onde mora a vida?
debaixo dos arranha-céus há sempre
uma suntuosa estação de metrô
com seus trens cheios de cabisbaixos
escrevendo o que ninguém lerá
desprezando a vida, o amor, a fé:
- ordem e progresso são indiferença!
desembarque pelo lado direito
o que ainda resta do seu coração
dilacerado
@pauloandel
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