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Wednesday, August 23, 2017

urbana

debaixo da sombra fria dos arranha-céus
há corações dilacerados
e mãos estendidas em vão: ninguém quer prestar atenção

homens de bem passam apressados
com suas gravatas importadas
e ternos muito bem cortados:

não há mais tempo a perder
quando se quer o Brasil de volta

- oh, retumbantes panelas!

o Brasil, a terra em transe
aquele outro, lindo e assassinado
com suas malas de dólares
e mortes a sangue-frio

choques de ordem e correção
a pátria amada de manchetes em pé
e mentiras na contramão

a cultuarem as senzalas modernas

os garimpeiros caçam pedras de morte
ao léu

a morte à vista sem constrangimentos

e passamos fingindo não ver

- estamos ocupados demais

ou acreditamos em um porco nazista
e aplaudimos um engomado calhorda

céus! céus! onde mora a vida?

debaixo dos arranha-céus há sempre
uma suntuosa estação de metrô
com seus trens cheios de cabisbaixos

escrevendo o que ninguém lerá

desprezando a vida, o amor, a fé:

- ordem e progresso são indiferença!

desembarque pelo lado direito
o que ainda resta do seu coração
dilacerado

@pauloandel

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