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Wednesday, February 22, 2017

carne crua II

I

carne crua, trêmula
ofegante
liquefeita
no mar das carícias
em mil predicados 
e um desejo só

carne crua, vadia
namoradeira
instigada pelos gostos
ou os imaginários
deliciantes

carne do gozo
do tesão
um jato, uma lágrima
um coração de alfaia
retumbante 

carne da provocação

um grito, um alívio
o impulso ao chão


II

carne crua, fria
morta
refém da terra má
estirada sem causar
apelo
aos indiferentes

carne vazada, invadida
estraçalhada 
rumo ao inevitável
pedestal
da decomposição

- a carne é nada - é inquilina
do desconhecido

é a primeira página


III

carne ao lado
da carne
as duas estrangeiras
distantes no ofício
perdidas 
enquanto os smartphones
vibram e as músicas 
tocam
as carnes alheias entre si
são saltos e passos
nas próximas estações

@pauloandel 

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