são tantos sorrisos retumbantes
à beira da cama que eu nem
acredito no ponto final desse
meu corpo forte mas tão doente:
- eles estão rindo e sempre cantando num estranho deleite
sem qualquer sentido diante da dor
e dos insossos berros coléricos
os poetas estão todos mortos
e não vai haver qualquer elegia
não existe lucidez nas trevas
ah, estas veias cheias de ódio vil
órfãs da tempestade, desesperadas
pelo desapreço das evidências
ah, esses nervos e músculos torpes
desenganados, cientes dos fins
- é o sentido da vida, se cabe o caso
- os aplausos de velório são mansas demonstrações de derrota
os patriotas são baús de ossos
quando a história termina, que diferença faz saber do final?
ah, praia bela de gente bonita
tu não podes ser nova senzala
e tu, corredor das compras, erga teus braços e afaste os porteiros:
somos ordem, progresso e hipocrisia
braços abertos à putaria sem gozo
fodam-se o amor e a amizade!
estão à vista as veias abertas da escrotidão mais sincera
nossos heróis idosos dizendo adeus
e ninguém entende mais nada
farsantes da ribalta e seus choques de ordem são o cheiro da geladeira do necrotério
que tal um novo feriado feliz?
aquela voz enternecida prestes a ler um inútil testamento
vamos fingir que somos eruditos
usando nossa melhor verborragia:
isso impressiona! uau! é foda!
dane-se o que é dito, basta parecer sofisticado e rico
mesmo numa fisionomia otária
uma salva de palmas para a podridão
enquanto a memória celebra
a luta dos homens humildes
em vão
amanhã vai ser um belíssimo dia
onde o horizonte encontrará os silêncios, o Carnaval dos silêncios
adeus, juventude! até nunca mais
as ruas estão cheias de guardas
o crime compensa
as ruas estão mortas, estupradas
a hipocrisia é riqueza
@pauloandel
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