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Wednesday, September 09, 2015

a tarde fria

a tarde fria, desabonada
com suas pessoas encolhidas
imersas na timidez da alma
enquanto a cidade cresce, cresce
sente vertigens de si mesma
- e tudo parece tão desumano – a violência -
algum desânimo

a tarde fria nos litorais
nas vielas, gares, centrais
o frio das calçadas suburbanas
o medo e o horror debaixo dos viadutos
a indiferença nas esquinas
e vidros fumês aquecem as salas
dos donos da vida e morte – senhores de si -
tão pedantes e inconsequentes

a tarde fria na praça vazia
no shopping sem graça, no trade center
é preciso fazer a roda girar
em vez de dar o peixe, ensinar a pescar
um brinde à hipocrisia!
toda nudez será saciada – vamos celebrar o prazer!
a vida é pouca e curta, incerta
não há sentido nos escritórios imponentes

que tal nos darmos as mãos
e espiarmos a gloriosa apoteose do caos?
vamos dar as mãos
e namorar memórias enquanto a vida resiste


a tarde fria
e meu amor mendigo pede esmolas
em todas as cidades do mundo
um trocadinho de compaixão

@pauloandel

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