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Wednesday, April 20, 2011

NOVES FORA

I

Um bate-papo de rua com um companheiro de trabalho, até deixá-lo no ponto de ônibus em frente ao Iaserj. A despedida, o até-segunda e resolvo voltar para casa. Passo pela porta do Inca e lembro do Xuru, como quase sempre. Fico estupefato: uma família se abraça e chora muito. Acabaram de perder alguém querido. Uma menina jovem e bonita explode em lágrimas. Penso que minhas pequenas dívidas, minha saudade, meus conflitos e tristezas são insignificantes perto da dor da morte, sempre a corroer quem fica. Passo em silêncio, como se fosse um réquiem ou minuto de condolências. A dor dói, bem escreveu o poeta. Somos pequenos e, às vezes, queremos ser muito maiores do que o mundo; ostentamos, subvertemos, vociferamos e não vamos a lugar nenhum. Que milhão ou bilhão de reais pode pagar a dor da perda de alguém querido? Nem em sonho. É que a vida não se resume a dinheiro ou poder. Existe sentimento, atitude, respeito e amor. O rsto é falácia para que o ser humano, em sua pobreza d'alma, tente justificar os  muitos erros que comete. A família chora na porta do hospital. Eu choro por eles e meus pais, mas sigo em frente. Vivo meu drama. São quatro da tarde.

II

Bonitas as garotas que disputam espaço na próxima barca. Uma morena baixinha e graciosa de blusa vermelha, calça jeans e um chinelinho que permite ver a formosura de seus pés, com uhnas delicadíssimas. Uma loura com expressões sensuais. Talvez cinco jovens a caminho da UFF. Comentam sobre o que não pode ser consumido por ora: o podrão, a cachaça. Uma delas parece estar medicada. A juventude é uma multidão bebendo e gritando na porta de uma faculdade qualquer. A quarta-feira vira sexta, enquanto as pessoas se apertam no transporte marítimo das seis e meia, o famoso rush.


III

Eu e Bola na sala bem-refrigerada, falando de nossos sonhos. O que se perdeu e jamais voltará, o que renasce das cinzas, o que sempre ficou guardado numa caixinha da memória. Não sei se Irene vem lanchar conosco. Mais tarde verei o jogo com Leo, esperando o impossível virar fácil. Telefonar para Malu. Tentar resolver problemas meus e de outrem. É só mais um feriado. No fundo, estou ferido pela dor de morte daquela família. É que a dor dói. Não quero saber de virtualidades.


Paulo-Roberto Andel 

2 comments:

Salete Cardozo Cochinsky said...

Olá meu caro Paulo Roberto
Que bom entrar aqui. Sabe daquelas intenções que vão ficando penduradas por razões, hora por algo externo, que segue e se transforma em interno.
Teu texto me remeteu a fatos em que pouco leio e pouco escrevo. Vida que segue em meio a perdas de familiares e doença (perigosas)de outras.
Mas aqui estou convivendo com essas dores em meio a rotina, assim como em teu texto.
Saudades, beijos

Paulo-Roberto Andel said...

Eu que agradeço sempre a tua visitas e palavras, Salete. Beijoca.