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Sunday, May 25, 2025

Maio

Maio está no final, diz uma canção pop. A gente mal suspira e já chega o meio do ano. Outro dia foi o Réveillon, depois o Carnaval, depois o super feriado de abril, a Lady Gaga e pronto: o tempo escorre a 200 km/h. A gente olha pro lado e a Copa de 2014 tem mais de dez anos, a virada do milênio vai para vinte e cinco e os gols do Assis têm mais de quarenta. A gente acorda, trabalha, sofre, volta pra casa, responde no WhatsApp e quando se dá conta o tempo foi supersônico. Maio, muita gente está muito pobre, muita gente remediada acha que é rica, os devedores pedem a Deus para escapar da morte. As guerras tão matando geral, as balas perdidas também. Os corações estão muito sufocados, o amor é desencontro e a indiferença é a regra. O outro que se dane. Que morra. Farinha pouca, meu pirão primeiro. Egoísmo em primeiro lugar. Ok, é compreensível porque temos muitos analfabetos funcionais e isso atua diretamente numa compreensão egoísta do mundo. Ao mesmo tempo é uma desgraça. Os proletários estão montando suas marmitas. Os famintos têm a calçada como mar da desgraça. Pobres são humilhados pela polícia. Maio está no final, o tempo galopa e seguimos em nossos caminhos inevitáveis para a morte, enquanto deixamos escorrer grande tempo de vida em empregos, pensando em consumir e ter poder. Eu não. Não. Só queria ter tido algum conforto, ter tempo ainda para fazer coisas legais, ver o mar, namorar, ver desenhos animados, ver crianças e bichos felizes. Realizar uns dois sonhos eróticos. Comprar um forninho elétrico, alguns times de botão e pagar os condomínios atrasados. Eu queria ver menos gente chorando na rua, as pessoas podendo almoçar um bom prato de comida. Eu queria outras palavras. Eu queria encontrar de volta aquele amor que só minha mãe me ofereceu. Vamos ver o que dá pra fazer enquanto o tempo voa, a indiferença cresce e a crueldade se finge de predicado. 

@p.r.andel