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Thursday, August 08, 2024

Batatinha frita

Perto da praça Tiradentes comprei um pacote de batatinha frita raiz. Três e pouco. Nem estava com fome, era para o lanchinho de mais tarde. 

Basta pegar o pequeno pacote plástico e vem tanta coisa à mente. 

A primeira: o Maracanã. Aquele outro, do povo, não o atual. Faz muito tempo. A gente chegava cedo para o jogo e ia na lanchonete. Não havia muitas opções. Misto frio (o presunto, grrrr) e queijo frio, os dois com pão de forma. E batatinha frita Guri, que fazia sucesso nos anos 1970 e 80 mas não sei onde foi parar. 

Mais Maracanã: quando a gente vinha de Copacabana para o jogo ou para a UERJ no ônibus 435, ele saía do túnel Santa Bárbara e dava a volta no Catumbi - ainda faz isso. Passou do cemitério, era literalmente batata: lá estava a fábrica de batata frita Popular que, segundo meu amigo Scalercio, sobrevive bravamente até hoje, o que é uma tremenda vitória diante dos gigantes das grandes marcas, com seus pacotões enormes, grandes propagandas mas sem um décimo de charme da batata frita Guri ou Popular. 

Muita coisa me aconteceu a caminho do Maracanã porque amo futebol - mesmo sabendo bem de todas as suas mazelas - e fiz muito esse caminho de Copacabana até a UERJ, desde criança. Passei a ir aos jogos com regularidade em 1978 e, dez anos depois, consegui me tornar calouro da universidade querida. O percurso durou até 1993 para a faculdade, quando fui expulso de Copacabana e me abriguei no Centro. A faculdade durou até 1994. Trinta anos, rapaz! O tempo sempre vence. 

Vou ao Maracanã até hoje, menos do que gostaria, mas o percurso é bem mais curto. Sinceramente, eu preferia o antigo, onde meu olhar de criança e adolescente prevalecia sobre as coisas. Agora, perto dos 60, é tudo bem diferente. Ainda existe a emoção do futebol, claro. A da UERJ também. Lá vivi bons momentos de minha vida. Trouxe poucos amigos, mas é normal - viver é diáspora. 

Em Copacabana tinha uma batata frita maravilhosa, não em pacotinhos, mas feita na hora. Ficava na Sorveteria Bolonha, esquina de Barata Ribeiro com Constante Ramos. Tudo ali era gostoso, a batata frita botava o Bob's e o Gordon no chinelo. A loja sobreviveu à ditadura, golpes, crises econômicas, a carestia, tudo, mas a pandemia lhe deu um golpe fatal. Eu era um garoto feliz às vezes quando lanchava na Bolonha. Ela acabou, eu fiquei aqui falando sozinho diante de todo mundo, assim como disse mestre Ivan Lessa em uma de suas  crônicas inesquecíveis. 

O tempo sempre vence.

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