Exatamente hoje, 35 anos. Embora tenha vivido na casa de Fred por 14 anos ininterruptos, poucas vezes passamos o Ano Novo juntos. Ele não gostava de sair, deve ter sido por isso.
Naquela noite resolvemos ir ao Sorrento, que ficava no Leme. Doce ilusão: abarrotado. Então caminhamos pelo calçadão, vimos os fogos, o ir e vir das gentes, éramos Copacabana o ano inteiro.
Decidimos ir ao Gordon, sempre um lanche de fé. Estava lotado, tudo bem. Pedimos vários sanduíches sinistros. Se não estiver enganado, Pedro Brito estava conosco. Talvez Coruja, Ricardinho quase com certeza. Lembro que as garotas mal conseguiram comer o primeiro e deixaram pra gente: comemos muito. Muito.
Era o fim de um ano de glórias: grande temporada escolar, Fluzão bicampeão, campeonatos de botão, muito futebol na praia e na quadra, praia de manhã também. Grandes acampamentos escoteiros. Dinheiro não havia, mas bastava para um garoto de dezesseis anos.
Com toda a paciência do planeta, um jovem trabalhador negro atendia cinco mil pedidos no balcão do Gordon. Seu nome era Misaque, havia a plaquinha na camiseta. Vinham o Angélico, o Diabólico, o Tudo e lá ia Misaque indo e vindo com uma tropa de sanduíches. Eu lembro de ter olhado pra ele, percebido que não tinha muita idade além da minha e pensado "Como esse rapaz trabalha sem parar". Era uma luta.
Um dia o Gordon acabou, hoje é McDonald's. Já comi lá algumas vezes. Fred, nunca mais. As garotas eu vejo no Facebook, Ricardinho também. Outro dia almocei com o Coruja e falei com o Pedro perto do Teatro Riachuelo.
Tomara que o Misaque esteja bem.
@pauloandel