os tempos, os tempos
e as mãos estendidas à espera
do nada
quase perto de algazarras
inconsequentes
em nome da liberdade
sorrisos de um carnaval natimorto
à procura do agora sem amanhã
[os outros que se fodam
a manhãzinha de silêncios cruéis
e mais um dia que parece em vão
carros cheios de sofrência sertaneja
buscando vagas e corações no leblon
sempre em frente, sem sentido
sempre em desprezo ao bem
comum
sempre em desperdícios
sempre a indiferença
numa terça-feira gorda e indigente
com céu de raios de sol em fevereiro
esperamos o ano que não começa
a promessa que não se cumpre
o afeto despedaçado em estilhaços
e lágrimas que não atenuam a dor
oh, cidade maravilhosa: rogai por nós
teus braços abertos já não abraçam
são os tempos, tempos modernos
onde somos primitivos ao extremo
os primeiros motores barulhentos
cortam as grandes avenidas à beira-mar
enquanto bailes de rua semeiam o fim:
nunca fomos tão cariocas da gema!
os mortos vivos do coração da cidade
estão desmaiados sobre as calçadas
- ninguém lhes dará bom dia ou tudo bem
- estamos muito ocupados, deixe-me em paz!
as esquinas estão cheias de ausência
@pauloandel