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Saturday, March 28, 2015

rua

a minha rua cheia de bares, alguns sorrisos, boas conversas
e gente dizendo adeus
na fila dos mendigos na cruz vermelha
à espera de pão
especialmente o barbudo em pé 24 horas em frente à banca de jornais.
a rua e suas angústias:
a gente indiferente, egoísta
bons samaritanos
carpideiras
e crianças de olhar triste com catéteres
a praça com sua miséria tatuada e fanáticos em busca de Deus que não têm culpa de nada.
a rua, a procissão dos que não têm casa
ou a passagem dos bem sucedidos
a cúpula da cátedra para um destino
tão menino
ainda menino a granel
a culpa é do governo, pois somos puros, inocentes e vítimas
a culpa é do sistema
alguém poderia devolver o troco a mais?

@pauloandel

Saturday, March 21, 2015

idiota (um copo de cólera)

estranhar os donatários da hipocrisia falida, incapazes de ver o mundo além de seus próprios desejos e raciocínios
são tão imponentes, sempre com espaçosos sorrisos debochados
o outro é um idiota
idiota
autossuficiência derramada na indiferença sobre a cor das ruas
quem deixa suas mãos estendidas ou recolhidas
se dorme ao relento, deve ser um idiota
paladinos da ética seletiva, da memória conveniente, a desfraldar grandes ensinamentos das orelhas de livros
quem não leu é um idiota
o sono tranquilo na cama confortável que o pai comprou, a mãe sustentou e o avô ajudou -
quem não tem é um idiota
proprietários de todas as respostas, cavaleiros das grandes soluções, gênios da raça escondidos atrás das páginas abertas
de um jornal de merda, merda
páginas abertas e letras difusas
quem não abriu é um idiota
a pior mendicância está na alma:
a vida é muito além do pensamento individual
quem não vê o outro como peça integrante do mundo enxerga de mal a pior
bate panelas sem fome
vê democracia no fim das regras
e rumina um país melhor sem combater a própria mediocridade
a mediocridade
qualquer fascista clean faz-se um intelectual importante
repetir as velhas falácias para justificar ódio, rancor, divisionismo -
a memória é uma ilha de edição!*
pensar nos outros por quê? é problema de Deus
rezar pela morte das capitanias hereditárias
a morte do quinto e a abolição da escravatura
quem reflete é um idiota!
mil vezes idiota
eu mesmo sou chamado de imbecil e rio: a estupidez de quem me ofende cabe num copo de cólera
enquanto sou o ballet
da imensidão do meu amor
que dança, disfarça e chora**

@pauloandel

*waly salomão
**cartola

Thursday, March 12, 2015

Filmes para pensar

"5 x Favela" (agora por nós mesmos)



"Notícias de uma guerra particular"



"Fala tu"



"Sonhos roubados"

Tuesday, March 10, 2015

poema torto

(copacabana over the rainbow)

e agora que o agora foi embora, onde foram parar os seus amigos para sempre?
pense naqueles bares inesquecíveis, as garotas tão românticas, os camaradas a bater canecas feito socos de gol
onde foi parar aquele país de sonhos lindos, segurança, felicidade, o da justiça para todos?
o chope acabou?
sevé não traz mais nenhuma bandeja e nem karla muga sorri discreta no fry chicken da siqueira campos
adeus, ditadura!
adeus, ditadura!
onde ficou a maravilhosa copacabana com suas putas, generais fascistas, sonegadores escusos, malandros de praia, maconheiros, marombeiros, gatinhas do grajaú - os mendigos famosos! - atores loucos na descida da escada do shopping:
katia flávia! louraça belzebu!
demônios do crepúsculo de cubatão - o dono era um maravilhoso ladrão
onde foi parar o la monet que não nos espera mais? garotas do méier.
aquele futebol que não existe mais, cheio de torcedores banguelas, de camisas rasgadas, perucas de enfeite, laranjas de almoço - a força do flu com assento - forever young!
meus companheiros de cartas são decadentes ricos - e cospem Miami, cospem Miami mas nunca vão entender de João Candido nem Domenico De Masi
um idiota me olha torto porque ando com meu velho par de chinelos mais uma bermuda antiga, tão vesgo e cafona, cafona!
os pivetes agora matam
a sociedade é mais estúpida e vale o que não está escrito
num respeitável hospital de porte há um traficante de colarinho branco em recuperação de saúde
- é MUITO respeitável
pessoas comem lixo nas calçadas ou lambem o resto das manchetes vomitadas
penduradas
na banca de jornais - veja mas não leia
surdos mentais, surdos mentais
repetindo mantras estúpidos dos grandes valores nacionais, pois o grande irmão estende a mão - e se for preciso, ela também pode matar, torturar, corromper
quantos corações doentes vão sobreviver sem qualquer intervenção?
vamos remover o ódio
expurgar nossas faixas de gaza
que fim levou a velha mesa dos meus amigos?
meus pais dormem tranquilos em algum lugar? será que sonham?
mesmo que tudo pareça tão medíocre e perdido, há de haver uma pequena salvação
no amor que não se consagra
na tristeza que não passa
e a estranha certeza de que recomeçar é o caminho
o brasil é outro, minha copacabana também
desaparecida feito a mendiga Lina que lia francês e new york times
o méier, a tijuca, arcozelo, imbuí
lembranças são o grande réquiem e viva a escassez do armistício:
ao chegar até aqui e me vir como um louco, um idiota da ilusão, parabéns! você não está mais sozinho
no cu do mundo
a dorsal atlântica é a serpentina de um carnaval
entre o caos e o vagabundo
parabéns!

@pauloandel

otraspalabras - paulorobertoandel.blogspot.com
não recomendado para imbecis maiores de 18 anos.