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Saturday, September 26, 2015

a culpa é do amor - 995

um dia assim
de mal-me-quer ou indiferença
a culpa é do amor: ele omite
ou esconde
o melhor do irrefutável
quem vai derrubar
a última lágrima?
ou dizer as palavras
mais inspiradoras
- quem sabe em terra estrangeira?
a culpa é do amor
que dá de ombros e vai embora
- somos tão imperfeitos!
dias de luto também têm o céu azul
prossigamos pela terra imperfeita
com seus homens egoístas
e pequenos príncipes de lama
enquanto o amor escorre
em quadros, ribaltas e procissões
o amor da terra, licor das imperfeições, verso rude
amor que anoitece e faz-se alvorada
o cântico da pátria
e o resto é um cigarro aceso
tragado pelos intervalos
da dor

@pauloandel

Wednesday, September 09, 2015

a tarde fria

a tarde fria, desabonada
com suas pessoas encolhidas
imersas na timidez da alma
enquanto a cidade cresce, cresce
sente vertigens de si mesma
- e tudo parece tão desumano – a violência -
algum desânimo

a tarde fria nos litorais
nas vielas, gares, centrais
o frio das calçadas suburbanas
o medo e o horror debaixo dos viadutos
a indiferença nas esquinas
e vidros fumês aquecem as salas
dos donos da vida e morte – senhores de si -
tão pedantes e inconsequentes

a tarde fria na praça vazia
no shopping sem graça, no trade center
é preciso fazer a roda girar
em vez de dar o peixe, ensinar a pescar
um brinde à hipocrisia!
toda nudez será saciada – vamos celebrar o prazer!
a vida é pouca e curta, incerta
não há sentido nos escritórios imponentes

que tal nos darmos as mãos
e espiarmos a gloriosa apoteose do caos?
vamos dar as mãos
e namorar memórias enquanto a vida resiste


a tarde fria
e meu amor mendigo pede esmolas
em todas as cidades do mundo
um trocadinho de compaixão

@pauloandel