Eu, que sempre acreditei nas coisas que perdiam-se para todo sempre, tenho enganado-me
Uma foto, um objeto, a lembrança de uma velha frase ou do mais empolgante dos beijos
Quando menos se espera, as coisas e pessoas voltam-me do quase nada, implacavelmente
E, quando chegam, encantam-me feito jamais estivessem ausentes de minha companhia
Certa vez, um inimigo contemporâneo alertou-me de que o mundo dá muitas e muitas voltas
Raras vezes na vida, alguém pareceu-me tão sóbrio, sagaz e pertinente em seus dizeres
Eu, que tolo fui, acreditava nas coisas perdidas para a eternidade, vagas nos limbos, perdidas
E agora, percebo que nem a morte é capaz de abalar a posteridade do amor, do carinho, da paz
Perdi meus mais queridos, que fazem morada agora no amargurado peito que carrego só
Em agradecimento, eles enviaram outros de algum jeito, perdidos que reencontrei na trilha
Eu, que tenho vivido com tanto amargor em minha sutileza, perdido na tristeza, recolhido
Estou desconfiado de que existe algo escondido na misteriosa essência da vida humana, terra
Longe de mim ousar descrever, acreditar, rezar, chorar para tentar decifrar tal segredo
Resta-me viver, bem fazer, sonhar e esperar por novos dias, reencontros, aqui ou ao longe
Paulo Roberto Andel, 22/02/2007