paulorobertoandel25022010
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Friday, February 26, 2010
Wednesday, February 10, 2010
CÉU (unreleased) / DESPISSE (review)
I
é céu
e nem por
isso
quer dizer
que
seja seu:
é céu,
somente céu;
mora longe,
no alto,
quase
inalcançável
que não seja
pela
imaginação
do homem.
é céu
e dizem ser lindo,
promessa do bom
do dia,
mas também é lindo
quando se perde,
se adoece
e morre –
daí, talvez
a estranha
sensação
de que beleza
e felicidade
nem sempre
andem de mãos dadas
flanando
numa calçada
florida.
é céu,
é longe;
admiremos
a beleza
que estampa
sob respeitável
distância:
colírio
à primeira vista,
mistério
que não cabe
decifrar.
II
que se despisse da mágoa
que se despisse da perda
do encanto
sem deixar o espírito
se dissipar
em qualquer lufada-
nem mesmo uma rajada
que se despisse do vazio
da vida inventada,
sem perseverar
fantasias vulgares,
nem permitir
a insensatez da falácia
que se despisse
do desejo não-recíproco,
doentio e apático,
incapaz de recobrar
velhas imagens
caleidoscópicas,
lunares,
num ritual estrambótico
que se despisse de si,
sem ardor nem amém,
sem jamais ou porém;
que se libertasse,
que progredisse;
que, de vez, amasse!
Paulo-Roberto Andel, 10/02/2010
é céu
e nem por
isso
quer dizer
que
seja seu:
é céu,
somente céu;
mora longe,
no alto,
quase
inalcançável
que não seja
pela
imaginação
do homem.
é céu
e dizem ser lindo,
promessa do bom
do dia,
mas também é lindo
quando se perde,
se adoece
e morre –
daí, talvez
a estranha
sensação
de que beleza
e felicidade
nem sempre
andem de mãos dadas
flanando
numa calçada
florida.
é céu,
é longe;
admiremos
a beleza
que estampa
sob respeitável
distância:
colírio
à primeira vista,
mistério
que não cabe
decifrar.
II
que se despisse da mágoa
que se despisse da perda
do encanto
sem deixar o espírito
se dissipar
em qualquer lufada-
nem mesmo uma rajada
que se despisse do vazio
da vida inventada,
sem perseverar
fantasias vulgares,
nem permitir
a insensatez da falácia
que se despisse
do desejo não-recíproco,
doentio e apático,
incapaz de recobrar
velhas imagens
caleidoscópicas,
lunares,
num ritual estrambótico
que se despisse de si,
sem ardor nem amém,
sem jamais ou porém;
que se libertasse,
que progredisse;
que, de vez, amasse!
Paulo-Roberto Andel, 10/02/2010
Tuesday, February 09, 2010
PROSA DO CANSAÇO (OU OTTO MAXIMILIANO)
Estou cansado. Otto me oferece uma trilha sonora para esta terça de verão arábico. Lá fora, um mundo cheio de fantasias e desgraças, entre céu lindo e esgotos nas veias de concreto abertas. O corre-corre e o clingue-clangue das ruas cansam. O egoísmo e a indiferença dos outros uns para com os outros me cansam. A verborragia oca dos que proclamam o fim do Brasil, em prol de ressuscitar um cadáver como o de Fernando Henrique Cardoso me cansa, absolutamente. É a cegueira, a miopia, a falta de acuidade desfraldando a apoteose da ignorância, e isso me cansa. A mofada notícia sobre os perigos da dengue; a insistência em se impor a Zona Sul como a única face do Rio; o tráfico que estupra e corrompe no Turano; a falta de profundidade em se discutir as questões; a previsibilidade da opinião dos capangas do grande capital; tudo celebra meu cansaço. Janelas, não há. Temperatura ambiente, travestida com um velho circulador e um ar-refrigerado longe de seu auge. Juliana não me sorri. As canções de Otto são doces e pesadas, capazes de atenuar parte da fadiga. Um Carnaval à vista com seus baticuns, um Ano-Novo que começa a seguir. Querem um mesmo velho campeão novamente, para que o dinheiro impere com amor. Ao menos, em algum lugar desta cidade, que é recheada de mulheres bonitas, alguém se refestela com o brilho de estrelas entrangeiras: Beyoncè, Madonna, Alicia. Porém, o resto me cansa. Noutros tempos, éramos mais profundos e dedicados e solidários, sem acharmos que toda a nossa compaixão e fidalguia pudessem ser limitadas ao MSN, ao celular e outras eletromídias; hoje, o que nos resta é a inevitável solidão humana de joelhos diante da fraternidade tecnológica. Nem os loucos não-tratados escapam: usam falsas identidades para mostrarem as piores faces do quase-ser humano. Que dizer dos bobos que se dizem liberais? Basta pensar no Haiti; aliás, país já varrido dos interesses noticiários: deu o que tinha que dar; lucraram e, agora, que os miseráveis se virem. O que dizer dos que leitores que não sabem explicar o que leram, ou os que leram numa linguagem particular hermética, incompatível com o que tinha sido escrito? Estou cansado. Otto canta que, para morrer, é preciso existir. Estamos diante de um invencível verão em seu apogeu, se é o que sei dizer. Talvez cem mil pessoas se divirtam na beira-mar, enquanto alguns milhões trabalham e trabalham e trabalham até que o sol seja pouco. Soube que três trabalhadores foram assassinados por bandidos durante o expediente; a empresa empregadora limitou-se aos pêsames, e isso quer dizer bem o que somos hoje: um batalhão de estranhos, num salve-se-quem-puder e o-que-importa-sou-eu-mesmo. Estou cansado. O Banco Itaú lucrou com o nunca no último quadrimestre. Parece ordem e progresso, para poucos. O telefone toca, não posso atender. Mensagens inúteis estampadas no computador – não vou responder. É preciso ter amigos, mas poucos – quem diz ter muitos, na hora da verdade não tem nenhum. Recordo dos tempos de bar, quando tudo se aprendia com os mais velhos, sábios de rua, que faziam questão de compartilharem suas experiências. Recordo Copacabana numa terça à tarde, quando eu corria dedicadamente e me sentia tão bem. O Lido, o Leme, o Bairro, tudo tão perto, vivo, mas ao mesmo tempo tão distante. Certa manhã, acordei de sonhos intranqüilos – era Kafka. Hoje, numa tarde que não sabe dizer o futuro, Otto alivia meu viver. Nem é tão relevante o fato de que ainda estou cansado. Não é relevante lembrar da estupidez humana que se manifesta a cada expiração. Quero apenas lembrar desta tarde de cansaço como algo que me fez pensar nos meus, nos outros e no todo, coisa que cada vez vejo mais rara fora de mim mesmo, e isso não é bom. Talvez seja de meu eterno inconformismo com o dar-de-ombros daquele todo contra os que precisam esmolar. Talvez seja humanidade, nem no melhor e nem no pior sentido da palavra. Talvez seja somente uma tarde de céu romanticamente lindo para meia-dúzia e sacrifício para a enorme plebe. Isso me torna cansado. O que me resta é a diferença. O outro lado da tarde ensolarada. Uma canção de Otto.
Paulo-Roberto Andel, 09/02/2009
Friday, February 05, 2010
TRATADO GERAL DOS IDIOTAS - PARTE I
(ou... por que Diogo Mainardiota honra seu nome?)
Neste Brasilzão de anticomunistas nazistas, neoliberais que ganham salário mínimo, estelionatários que protestam contra corruptos, moralistas que sonegam impostos, analfabetos que votam em seus algozes e outras tantas categorias exóticas, vale a pena reviver um verdadeiro esplendor da idiotice como verdadeira faca afiada contra nosso individualismo, nossa falta de senso crítico e, principalmente, contra nossa eterna insistência em mitificar seres medíocres com a medalha (de lata) da intelectualidade.
Fazia tempo que o grotesco personagem não dava as caras por aqui. Entretanto, nunca é demais lembrá-lo: é recordar de como o Brasil é manipulado, subvertido e, principalmente, trucidado por gente sem-caráter que só vê nos benefícios próprios o que se chama de "progresso". Além do mais, como o nazifascismo do dito cujo só aumentou com o tempo...
O texto fala por si. Melhor dizendo, late.
Cada um com as devidas conclusões.
http://veja.abril.com.br/131102/mainardi.html
Chega de Drummond
por Diogo Mainardi
"João Cabral me alivia da pieguice
de Drummond, de seu sentimentalismo
ginasiano, de seu lirismo kitsch. Mas não
há o que fazer contra sua prosa. Ali ele
aparece em toda a sua constrangedora
banalidade, com aquelas historinhas jecas"
"Drummond, Drummond, Drummond. Para onde quer que se olhe, Drummond e mais Drummond. Em Copacabana, celebraram seu centenário com uma estátua. Em Piracicaba, roubaram uma sua caricatura. Em Itabira, sua cidade natal, crianças foram obrigadas a declamar seus versos para os turistas. Pelé gravou um CD com suas poesias. Luiz Felipe Scolari citou-o em suas memórias. Uma moeda foi cunhada com sua efígie. Ele inspirou espetáculos de dança e foi mencionado em receitas de tutu à mineira. Até Lula apareceu com seus livros debaixo do braço. Com ar doutoral, disse que ajudavam a prepará-lo "espiritualmente" para a Presidência.
Foi tanto Drummond que acabei enjoando dele. Basta ouvir seu nome que começo a tremer e a suar frio. O antídoto mais eficaz contra essa ressaca de Drummond é uma dose maciça de João Cabral de Melo Neto. Leio-o todos os dias. Alivia-me da pieguice de Drummond, de seu sentimentalismo ginasiano, de seu lirismo kitsch: "Amor é estado de graça", "Amor foge a dicionários", "Amor é primo da morte". Quer mais? "O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar", "Quem tem amor tem coragem", "O amor bate na aorta". Ainda mais? "Amar é o sumo da vida", "Amar se aprende amando", "Vamos conjugar o verbo sempreamar".
Se João Cabral de Melo Neto atenua os efeitos nocivos da poesia de Drummond, não há o que fazer contra sua prosa. Ali ele aparece em toda a sua constrangedora banalidade, com aquelas historinhas jecas sobre o Dia das Mães, sobre o Dia dos Namorados ou sobre os velhos bares no interior de Minas Gerais. Numa crônica de Natal, ele sonha com o dia em que o "mundo será governado exclusivamente por crianças". Numa crônica em homenagem a Chico Buarque, escrita em 1966, ele proclama que nunca foi da Arena ou do MDB, mas "desse partido congregacional que encontra na banda o remédio". Quando convinha ser de esquerda, porque todos os poetas o eram, Drummond fazia poesia de esquerda. Quando o clima piorou, e os esquerdistas começaram a ser perseguidos pela ditadura, ele achou melhor pular fora, escrevendo sobre minúsculos acontecimentos do dia-a-dia. Aquilo que foi pomposamente apelidado de metafísica do cotidiano. Ou seja: nem Arena, nem MDB.
Nos manuais de literatura, Drummond é louvado por sua ironia. É uma ironia amável, benévola, cúmplice, que se esforça para confortar e apaziguar, sem jamais correr o risco de ferir o leitor. De fato, ele é prevalentemente auto-irônico. Ironizando a si mesmo, Drummond evita atacar o próximo. A auto-ironia, porém, é sempre um exercício de falsa ironia. Em 1930, quando se define um "gauche", ele demonstra ser tudo menos um "gauche", usando muita astúcia e habilidade para conquistar seu espaço no ambiente literário nacional. Mais tarde, quando julga "insignificante" seu poema mais famoso, "No meio do caminho", ele tem a certeza de que ninguém irá concordar. A seguir, quando ironiza sua frivolidade, seu provincianismo, sua teimosia em tratar de assuntos menores, ele sabe que está num terreno seguro, tendo sido aclamado por causa disso pelos maiores críticos do país.
Chega de Drummond. Pelos próximos dez ou quinze anos, é melhor ficar longe dele."
Minha opinião senta praça numa única palavra: bizarro.
Monday, February 01, 2010
Uns pretos
um preto
não é filho de um preto
só
e somente
um preto é tão preto
como também é branco e vinho
é cinza e roxo
ou gris
um preto é tudo da gente
que respira e quase ri
trabalha mas não têm
padece e ferve o crer -
água de fé na outra vida!
a que não é toda azul
nem rosinha
e que pode ser um tanto preta
mas, na verdade,
tem a mais evidente
e translúcida
das cores que sabemos ver:
por ora, nenhuma.
paulo roberto andel 01/02/2010
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