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Friday, May 29, 2009

APOIO AO MOVIMENTO “CADÊ PATRICIA?”
















APOIO AO MOVIMENTO “CADÊ PATRICIA?”

EXISTEM QUESTÕES QUE NÃO PODEM DEIXAR DE SER MENCIONADAS.

SÃO QUESTÕES DE ORDEM PUBLICA E SOCIAIS.

QUESTÕES QUE, QUANDO SE CONSTITUEM EM PREOCUPAÇAO DA SOCIEDADE, QUE COBRA O QUE LHE É DEVIDO, TÊM MUITO MAIS CHANCES DE SER SOLUCIONADAS.

ACREDITAMOS QUE DEVE HAVER SEMPRE RESPEITO DAS AUTORIDADES CONOSCO, CIDADÃOS. POR ISSO, APOIAMOS O ESFORÇO DA FAMILIA AMIEIRO FRANCO EM ESCLARECER O DESAPARECIMENTO DE PATRICIA AMIEIRO FRANCO.

A FAMÍLIA TEM DIREITO A RESPOSTAS.

A SOCIEDADE TEM DIREITO A RESPOSTAS.

CONVIDAMOS A TODOS PARA QUE ACESSEM O SITE WWW.CADEPATRICIA.COM.BR, E VER DE QUE FORMA PODEMOS AJUDAR. SEJA ATRAVES DE E-MAILS, MENSAGENS EM SITES, PARTICIPANDO DA COMUNIDADE NO ORKUT OU COMPARECENDO À MANIFESTAÇÃO QUE SERÁ FEITA NO DIA 07 DE JUNHO, DOMINGO, ÀS 10 HORAS, NA AV. SERNAMBETIBA 4.250, CONDOMINIO VIVENDAS, POSTO SEIS DA BARRA DA TIJUCA.

DIVULGUEM ESSA NOTÍCIA.

ESTAMOS JUNTOS NESSA!

Tuesday, May 26, 2009

A penúltima vox do Brazyl




















Paulo-Roberto Andel, 26/05/2009

Friday, May 22, 2009

SOY LATINO-AMERICANO E NUNCA ME ENGANO
















ZERRODRIX

Era 1976 para 1977. Tempos de horror; minha mãe chorava todo dia por problemas na família. Morávamos em Madureira, ou Vaz Lobo, temporariamente; coisa de uns seis meses, mas não era fácil. Lá fora, a Máquina Tricolor dava shows e ganhava campeonatos, mas eu ainda estava com meus carrinhos e um playmobil.

Perto de casa, uma pequena lanchonete. Uma das melhores coxinhas de galinha que já comi em minha vida. Mãe sempre pedia para buscar um lanche lá. O rádio tocava uma canção:

- Soy latino-americano, e nunca me engano... nunca me engano!

Um dia, até a dor passa. Voltamos para Copacabana.

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Nos últimos dias, uns quinze, talvez sedento por redescobrir intensamente uma das minhas bandas da juventude, ouvi com intensidade o Joelho de Porco – provavelmente a melhor banda de rock-humor do Brazyl em todos os tempos, ainda que o humor esteja sempre presente em qualquer rock.

No YouTube, as delícias de se rever “A última voz do Brasil”, um dos eternos clássicos pop do nosso cancioneiro. Apresentação antológica no Festival dos Festivais, com direito a orquestra e coro.

David Drew Zingg, um dos pilares da fotografia mundial, com nariz de porco, claro, e seu sotaque inconfundível. Tico Terpins, também antológico. Prospero Albanese aos potentes gritos. E Zé Rodrix, com seu timbre ímpar e seu jeito de compor também (o piano de “A última...” é a cara dele).

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Parceiro de Sá e Guarabira, bem-sucedido na carreira solo e nos jingles, inevitável artífice do Joelho de Porco, Zé Rodrix é um dos gênios brasileiros que o povo não escutou direito – e a crítica não entendeu direito.

E mesmo que não fosse nada disso, tá lá tatuado na minha infância e na minha adolescência.

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Ontem, fiquei triste. Aniversário de um ano da morte de meu pai.

Quando nos deparamos com a dor interminável, o jeito é buscar alívio.

Lá estava eu, com obsessão catalânica, diante do computador, para mais uma sessão de “A última voz do Brasil”. Rir é sempre um bom remédio, ainda que o Joelho, sob risos, denunciasse um Brasil bizarro que aí está até hoje.

O vídeo tem quase dez mil acessos no YouTube. Expectadores deixaram seus comentários por lá. Um deles, patético:

- A banda é ótima... pena que o chato do Zé Rodrix apareça o tempo todo.

Perdoai-o, señor; ele não sabe o que diz. Teu Deus do céu, que palpite infeliz.

Último play. Stop. Desativar.

Leo sumiu, Taty estava ocupada, Bola letrou um caô.

Éramos eu, doze pães franceses, queijo cheddar, coca-cola. Hamburgers.

E um pouco de jazz.

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Acabo de chegar ao trabalho.

Zé Rodrix acabou de morrer, no mesmo dia em que meu pai, um ano depois. Poucas horas depois de tê-lo visto mais uma vez em vídeo. Deveria ter sido proibido o seu falecimento, assim como os de Candeia, Tom Jobim, Sivuca e Blecaute e muitos mais. A única hora em que o autoritarismo poderia ter alguma utilidade.

Minha família foi embora.

E a música do rádio, também.

Eu quero um Joelho de Porco para mim!


Paulo-Roberto Andel, 22/05/2009

Wednesday, May 20, 2009

ÁGATA












maio já está no final*
o atlântico, serenamente,
namora a dorsal;
não são só dois, não só casal
por um instante reticente:
muita lenha há para se queimar
sem par e tal

anseia o pano
que navega aquela pele;
atiça o colo
num pecado carinhoso;
inveja a plebe
que não tem tamanha verve;
invade os sonhos
num olhar de fogo aceso

é a lua, tão nova e indiscreta,
mal-disfarçada numa nesga,
que se revela e desnuda -
quem a bem repara
não alimenta rusga,
apenas uma tátil canção
de pólvora:
todo amor no continente,
meu prazer no horizonte,
tom num jazz latente,
certo tesão sem máscara

por ela, querela é pétala;
por ela, rancor é mingua;
meu coração
é uma escola de samba
e tateita, tateia:
ah, lua cheia,
ágata da minha vida!
jóia pequena do meu desejo,
doce licor da lascívia em sina;
negrume aos olhos, aos cabelos,
ao céu rebento,
sem retrocesso:
lua, não me despeço!
teus versos são fonte
que nunca termina.



Paulo-Roberto Andel, 19/05/2009

(Contém trechos de “Maio”, Paula Toller e George Israel, 1998)

Tuesday, May 19, 2009

VOCÊ, VOCÊ!
















você, que me liberta
você, que me acelera
você, que faz da hora e meia
meu viver noutro planeta
você, castelo de sonhos
que não me trai nem desampara -
você me regenera!

é por você que canto,
é por você que sonho,
é com você que vibro
num carnaval fugaz;
você, minha crença;
você, melhor sentença
do meu coração em paz


Sou Tricolor desde que nasci; talvez, antes disso. Nunca deixarei de ser. Quem conhece as cores, as gentes e as moças da minha arquibancada sabe muito bem do que me orgulho.

Paulo-Roberto Andel, 19/05/2009

Monday, May 18, 2009

SHORT CUTS - CENAS HUMANAS E UM BESTALHÃO



Sexta-feira, dezenove horas.

Não escuto a “Voz do Brasil”, mas sim a campainha.

Fernando, meu amigo. Vinte e sete anos sem contato visual não-virtual. Os tempos voam longe.

Trinta segundos de um forte abraço, e tudo volta como era antes.

Jogos de futebol no rádio, com Waldyr Amaral e Jorge Curi. Saldanha comentava, os repórteres de campo eram Kleber Leite e Loureiro Neto. No Botafogo, Borrachinha, China, Ademir Lobo e Mendonça. Fluminense? Wendel, Miranda, o velho Moisés, Edinho, Pintinho. E Nunes.

Amigo é amigo, não importa a pausa. Aperte o botão, e a fita cassete continua do ponto onde parou. Tanto faz se havia Muro de Berlin, Jimmy Carter ou Roberta Close. O mundo gira, a Lusitana roda.

Camarão no Bar do Peixe, coisa fina. Pequenos regalos da vida.

Estamos de volta.

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Sábado nublado pela manhã, deixo a casa de Dória, no Méier. Rimos muito por lá. Não direi o assunto.

Preciso chegar em Niterói, onde Gustavo e Irene me esperam para um almoço. Um grande almoço. Na casa deles, qualquer refeição é monumental.

O Méier é terra das meninas lindas. Sempre. Antes, havia Luciene, Sonia Chris e mais outra, que não merece tamanha audiência. Deixe estar.

Desço a Dias da Cruz, movimentada como lhe convém.

Uma senhora na contramão. Quarenta e poucos anos, talvez mais. Nas mãos, uma caixa de doces. Não está vestida humildemente, não parece uma trabalhadora de rua, uma vendedora de balas. Caminha lenta, mas firmemente. E chora.

Por conta das lágrimas, tento lhe falar algo, mas delicadamente ela faz um aparte, mostrando a palma da mão livre, e segue seu caminho. Outra garota tenta, em vão. A senhora parece numa procissão de dor. O resto da turma segue indiferente, fingindo não ver e, conseqüentemente, se omitido. Preocupação com a dor dos outros, para eles, é comunismo.

Em sua recusa de compartilhar a dor, em sua caminhada serena de morte, em sua tristeza infinita, a moça tem uma dignidade

Vem o 247.

A garota senta perto de mim e me pergunta o que tinha acontecido com a senhora.

Nunca saberemos.

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A casa de Irene é para se ouvir sua risada. Talvez seja um dos únicos lugares na Terra onde ainda me sinto em casa, além de não querer vir para minha própria casa quando chega o fim da atividade. Confesso que já deixei mais de uma namorada na mão só para ficar lá. Confesso também que não me arrependi, exceto num dia em que um louco chato defendia a democracia de Armínio Fraga.

Meu casal de amigos é daqueles para você ficar conversando por horas, horas e horas.

Aproveitei o ensejo para fazer uns golaços no futebol de botão.

Antes, fala-se de tudo: programas trash, esportes, gente bizarra, chatos, canções, biscoitos e até o incrível fato de um sexagenário efeminado sedento por manjar meu “bilau”, como saberemos adiante.

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Domingo era dia de Fred.

Dizem que Fred morreu. Eu vi, mas não acredito. Eu acredito, mas não confio.

Fred é meu pensamento, é minha lembrança e meu arsenal de risadas.

Fizemos um almoço-chope-tributo ao amigo querido. De meio-dia até três ou quatro da tarde, talvez. Delícias da Cobal do Humaitá.

Fechamos conta às oito.

Ri muito com Jorge Pinto. Um dia, eu conto.

Fred vive, do jeito dele e nosso.

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Eu prometi que não ia mais falar de meus três detratores, mas priorizar meus cem fãs do Orkut, meus trezentos amigos e todas as pessoas de bem que visitam meu blog. Dos três apedeutas, dois sossegaram o facho, talvez por traço no Ibope. Restou um.

Peço pausa para uma vezinha. A última. A piada é boa demais para ser verdade. Conversei com uma gata-jornalista sobre o tema e ela me incentivou.

Em quinze anos de vida eletrônica, já vi de tudo em e-mails, listas, sáites e blóguis. Mas a surpresa é sempre uma possibilidade.

Recebi uma mensagem dum sujeito por estes dias. Mensagem, não; um número dois, vindo de um número dois com cérebro de número dois. Da natureza dos covardes, assinou como Anomymous. Compreendo: se eu também fosse um covarde e não tivesse sequer vinte reais para pagar uma conta de luz (quanto mais as custas de um processo judicial), por exemplo, faria o mesmo. Pensando bem, não faria.

Não um leitor, propriamente: na verdade, um borra-botas, vociferando contra mim palavras de baixo calão que, por conta de sua frouxidão, jamais serão repetidas em minha frente, na cara – a marca registrada dos covardes. O dito cujo teria idade para ser meu pai – caráter, não. Mas exerceu o direito democrático de escrever tolices como se fosse um pós-adolescente, repetente incessante no segundo grau. Tudo bem, um idiota a mais, um idiota a menos, está na média. Nem todo mundo tem culpa de ter trinta anos a menos de idade mental. Também não terei, caso o encontre na rua e coloque seu focinho na nuca num estalar de dedos: agirei sob forte emoção, à letra fria da lei. Mas não comemoro: quebrar meia-dúzia de dentes podres de um fracote não é nenhuma vantagem para um boxeur – no caso, o oponente é um bunda-mole que não resiste a dois segundos de luta.

Anonymous, na verdade, é um ser(?) vinculado à espécie Desocupadus Caqueticus Durangus, mais precisamente dentro do gênero Sexagenarius Fracassus Artisticus. Não é catalogado como uma criatura em extinção; na verdade, nem catalogado está. Sua crônica incapacidade de atrair fêmeas para um simples bate-papo não permite a propagação dos genes: efeminado, tenta acasalar por meio virtual, sem nenhum sucesso; confuso, usa Viagra como supositório e acha o comprimido “pequeno”.

Em suma, como diria Catalano... um bestalhão – tudo enquanto exerço minha modesta profissão em minha pequena sala refrigerada (sem riscos de corte de luz por inadimplência), com renda e estabilidade; escrevo, converso, brinco, vejo o Fluzão, ouço música, transo bem, beijo bem, como churrascos e leio Hemingway.

Um invejoso porque mulheres lindas e cultas, camaradas de alto nível moral e intelectual me elogiam aqui.

Tenho culpa?

Duas coisas me chamaram a atenção. Nenhuma por importância, mas pelo ridículo.

A enorme fixação redigida que o "remetente" apresentou por meu órgão sexual e minha barriga, demonstrando ser portador de SIVA.* - deixo claro que o ofensivo baitola não me patolou, embora possa ter desejado contemplar minha ereção (ARGH!).

O fato de um sujeito, em 2009, para parecer “descolado” ou “malandro” utilizar a expressão “sacumé” em seu deprimente “texto” fedendo a chorume. Raras vezes vi algo tão cafona, ultrapassado e fora de tom. Merecia um Troféu Abacaxi no Chacrinha. Nem os hippies de barba-suja-de-macarrão sobreviventes de Woodstock aceitariam tamanha breguice. Sinal completo de coma sexual. Decadência.

No fundo, no fundo, estas linhas finais não passam de uma verdadeira boa-ação; trata-se da única chance de Anonymous ser conhecido ou discutido por trezentas pessoas: sendo mencionado em meu blógui.

Pela última vez.

Este é seu trajeto de vida, velório e enterro. Morreu como viveu: sob indiferença e uma ou outra risada.

No mais, Revertere Ad Locum Tuum.

Pá-de-cal.

Gargalhadas. Muitas.

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Trezentos amigos, eu gosto de vocês.

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* SIVA = Síndrome da Viadagem Adquirida.


Paulo-Roberto Andel, 18/05/2009

Friday, May 15, 2009

RÉQUIEM PARA UM FRACASSADO


Paulo-Roberto Andel, 14/05/2009

Thursday, May 14, 2009

RUAS ESTRANGEIRAS


















nada nestas ruas
ergue os alicerces
das imagens familiares
aos meus sonhos,
nada

esta gente
humílima e sofrida,
de mãos em súplica
e veias saltadas de dor;
essa gente
indiferente e solitária,
com frieza à queima-roupa,
visando vida
com a miopia das vitrines;
aquela gente pusilânime,
hipócrita e covarde,
escória da raça vil e traiçoeira

não tropeço nas banguelas
das pedras portuguesas
que adornam estas calçadas –
elas já não me enganam

não me reconheço
nas praças gradeadas;
nos condomínios de grande luxo
e vida mínima,
entrincheirados,
fazendo vezes de masmorra;
meu rosto não reflete
nos letreiros atônitos
a destrinchar língua importada,
e nem nas esquinas inexistentes.

o toque de recolher,
a mudez do samba
e o sangue derramado
feito leite azedo
não me identificam

estou bem longe destas ruas,
estou farto daquela certa gente
que se proclama decente,
mas carrega um ventre em lodo

não sou daqui

entrevado,
caibo na delícia
de me sentir tão forasteiro;
um estrangeiro bravio,
talvez inútil,
mas nem por isso
menos certeiro
sobre a inércia que nos cerca:
falta pólvora no pavio!


Paulo-Roberto Andel, 26/06/2008

Wednesday, May 13, 2009

TREZE DE MAIO?












Caros amigos,

Já cantava o genial Caymmi: “Vida de nego é difícil, é difícil como o quê”.

Mais um treze de maio à vista: cento e vinte e um anos da chamada abolição da escravatura no Brasil: gesto digno, importante, tardio e que, por má execução, acabou não abolindo quase ninguém. Um século e a desigualdade social está ao alcance das mãos, exceto para parlapatões como Demétrio Magnoli, Ali Kamel e o (sempre necessário dizer) parajornalista Mainardiota – todos, sempre com dados estatísticos às mãos e um arsenal de manipulações, aplaudidos por ignorantes deslumbrados que imaginam um Brasil que só existe na Avenida Paulista e na antiga Sernambetiba. Abolição?

Pelas tabelas, há os que vociferam contra o sistema de cotas, tema polêmico, rico e necessário. Reconheço falhas gritantes no sistema vigente, que precisam ser discutidas e realinhadas; entretanto, os mesmos que latem não apresentam qualquer alternativa plausível para a inserção sócio-educacional dos pobres – quando muito, as falácias tão seculares quanto o maio da princesa Isabel: é preciso criar uma “revolução” no ensino fundamental, dizem. Não fosse a hipocrisia de quem a profere, haveria validade plena: de modo algum as classes mais favorecidas têm interesse em revolucionar o ensino público e permitir incrementos aos mais pobres – muito pelo contrário, não admitem publicamente, mas defendem o status quo. Qualquer sujeito sabe que o sistema educacional brasileiro está em processo de degeneração; entretanto, se uma ansiada grande mudança acontecesse a partir de hoje, o que se faria por exemplo com os jovens entre 17 e 19 anos, potenciais estudantes acessando o ensino superior? Enquadrá-los na famigerada Lei de Odracir? Nossos homens de mídia parecem “conhecer” muito de ensino e desenvolvimento, mas são completamente ignorantes em termos de direitos subjetivos. Negar a exclusão social histórica dos negros e seus descendentes no Brasil é vestir na cabeça um chapéu de cone. Em contraprova, os cotistas de meu berço, a querida UERJ, mostraram recentemente melhor pontuação média nas disciplinas, contrastados com os não-cotistas. Esforço hercúleo, dedicação? Ou a comprovação de que o fato dum sujeito ser abonado, ter feito cursinho e ter passado num vestibular público não o torna “mais preparado” do que outro sujeito que, sem as mesmas condições, tenha ingressado na universidade pelo sistema de cotas?

Morri de rir estes dias, lendo um conhecido em seu blógui: faz campanha contra o Bolsa-Família e a vergonha do desvio de dinheiro público. Retrato típico da nação: é funcionário público, ganha quinze mil por mês por um trabalho que, no setor privado, teria um terço dessa remuneração, e vem jogar o problema nos pobres? Um gesto altruísta cairia bem: simplesmente pedir exoneração para poupar o Estado. Ah, isso não.

Há vinte e um anos, ingressei na UERJ, com boa pontuação vestibular num curso de procura restrita, o de Estatística. A ciência em questão mostrava e mostra que, no âmbito nacional, os cursos públicos de graduação com menor relação candidato-vaga tendem a ter um maior número de alunos não-louros-de-olhos-azuis, justamente porque a classe loura-abastada direciona seu poder de fogo e seu preparo “intelectual”, em cursinhos que podem até custar dois mil réis por mês, para os cursos de “doutores”: Direito, Medicina, Odontologia, Engenharia et cetera. Quando você vai a um consultório médico particular ou clínica, não há porque se surpreender no fato de que o médico/ médica que te atende nunca é preto/ preta, nunca é pardo/ parda, nunca é mulato/ mulata. O enfermeiro enfermeira, pode ser. Ah, sim, minha graduação. Começamos com cento e vinte alunos. Quatro pretos. O Brasil é plural. Há advogados pretos, muitos. A minoria, nos grandes escritórios. Quem não se lembra da comemoração feita quando da nomeação do Ministro Joaquim Barbosa para o STF, por ser o primeiro preto lá? Um século de hipocrisia no país da democracia.

O Brasil é plural e convive bem com isso, dizem. Ô. Mas depende da questão geográfica. Em Ipanema, por exemplo, e tão-somente exemplo, bairro-paradigma do Brasil, há muitos pretos. Podem fazer o censo: os locais moram, em sua maioria, nas comunidades de Pavão-Pavãozinho e Cruzada São Sebastião. Pretos na Vieira Souto? Flanelinhas, seguranças de terno ou porteiros. Alguém sabe dizer de algum síndico da famosa avenida litorânea, que seja afrodescendente? Pois é. Por que o Leblon tem mais louros-de-olhos-azuis do que o Catumbi? Por que em Madureira os nordestinos estão mais próximos do empresariado do que no centro da cidade? Por que Japeri tem uma infra-estrutura pior do que o Méier? Há várias respostas; todas, de alguma forma, esbarram num mesmo item: renda.

Mudemos de bairro: comunidade do Jacarezinho. Tem algum morador louro-de-olhos-azuis que esteja cursando faculdade de algum dos cursos que enunciei noutro parágrafo? Cartas para esta redação.

São apenas citações. Não estou aqui tratando de parametrização estatística, embora meu diploma me permita tal chatice. Apenas coloco em discussão algumas máximas insistentemente repetidas pela mídia, repercutidas pelas maritacas falastronas sem a menor reflexão. Em suma, a coisa não é bem do jeito que tentam pintar.

Cotas e bolsa-família, reitero, são paliativos. Paliativos. É preciso mais do que isso se querem transformar o país de verdade. Mas têm importância fundamental no Brasil de hoje, que é bem menos pior do que aquele feito pelo desgoverno de Fernando Henrique. Há muito o que fazer: extinguir deputados que se lixam para o povo, prender bandidos engravatados multimilionários, fazer do Brasil um verdadeiro Brasil – o que é impossível através da “livre-iniciativa” (que nunca foi livre) tão propagada pelos jornais, revistas e patetas de plantão.

Hoje é treze de maio. Falam tanto dos feriados. O país para. Lorotas. A Alemanha também tem. Deveria ser um dia de reflexão para tudo o que acontece nesta terra.

Kamel, Magnoli e Mainardiota são lacaios da renda. Não o fossem, direcionariam seus impropérios contra o movimento nazista veiculado nestes dias pelos noticiários, que está ramificado em todo o Sul Brasileiro.

Não deram uma palavra.

Logo eles, que deveriam se considerar também “afrodescendentes”, num país justo, plural, miscigenado, eqüitativo e que, por isso mesmo, deveria abrir mão do sistema de cotas e do Bolsa-Família.

Sou do tempo em que preto tinha medo de nazista. E branco também.


Paulo-Roberto Andel, 13/05/2009

Tuesday, May 12, 2009

A ÚLTIMA VOZ DO BRASIL!














São quinze pras sete, tá quase na hora
de ouvir pelo rádio a última voz do Brasil

Calem a boca, cantores do rádio!
Tá quase na hora da última voz do Brasil

Vocês não vão saber de nada mais!

Fechem a porta, apaguem as luzes,
acendam as velas para a última voz do Brasil

Em Brasília, dezenove horas!

Aviso aos navegantes: mar de pequenas praias,
calmaria, bóias de luz!

O preço da soja, o dilúvio no Acre
já foram notícias na última voz do Brasil

Os navegadores perderam o rumo,
sem ter as notícias da última voz do Brasil

Vocês não vão saber de nada mais!

Sete e quarenta, tão todos na sala
ouvindo as notícias da última voz do Brasil

Panela no fogo, ampulheta (barriga) vazia,
e aquela folia da última voz do Brasil

Nunca mais vamos ouvir o Guarani

Já passa das oito, barriga vazia
e aquela folia da última voz do Brasil

De agora em diante, é tudo silêncio
e nós nunca mais ouviremos a voz do Brasil

Nosso consolo é ver a TV
Brazil has no more radio service today

Vamos tentar mais uma vez
a última voz do Brasil

A insensatez que você fez
querer ser burguês no Brasil

Atriz atroz, atrás há três
folias de reis no Brasil

E os carnavais nos hospitais
se ouvem na voz do Brasil


(Prêmio de melhor letra no Festival dos Festivais, 1985)

Monday, May 11, 2009

Fosco



inenarrável
a beleza,
tão sozinha
no fosco da tarde,
tão sozinha
no vazio da fala,
tão sozinha
frente à multidão,
que significa
essencialmente
a própria
consolação

indesculpável
a beleza,
tão formosa
mas tristonha;
tão delicada
mas tenebrosa;
insaciável
medonha,
desamparada,
dadivosa

inconteste
a paixão,
a secura
e a dor –
pois não?
sem par,
nem cor dão


paulo-roberto andel, 11/05/2009

Friday, May 08, 2009

Meu dia de Mainardiota!





















Provei do meu próprio veneno, embora sem as intenções maléficas da maioria.

Não era meu intento, mas cheguei lá.

Tenho inimigos virtuais, tal como Mainardiota, o parajornalista do conhecido e lamentável veículo semanal da Editora Abril. A diferença está nos números, sempre eles: Mdiota tem milhares; eu, três.

Tento analisar as razões. Afinal, meu blógui é desconhecido – embora, sem falsa modéstia, o autor seja de boa cepa. E... não sou capanga de Daniel Dantas ou Gilmar Mendes.

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Tive alguns inimigos na vida. Poucos.

A maioria deles, até a idade adulta, com vocação para a ignorância atroz.

O chefe de escoteiros do grupo ao qual pertenci; uma besta. Um ex-vizinho, que me acusou de ser homoafetivo quando descobriu que algumas de suas namoradas me fizeram muito carinho. Um chato do quarto andar, que fofocava ruindades entre garranchos e monossilábicos.

A maioria da turba gosta de mim. Amigos, garotas, ex-namoradas até. Meu amor. Minha família. Nunca precisei ostentar isso, tal como se faz hoje em dia: já viram a patetada de redes sociais, blóguis e congêneres com fotos de “casais felizes fazendo juras de amor eternas e emanando felicidade às quatro estações”. Pode escrever; alguém nesta história bate com os chifres no topo da porta. Cada um com sua felicidade. E mentira. Há casos piores, até: o sujeito escrever para si mesmo, fingindo ser um fã ou a pessoa amada. Pode parecer demais, mas tem louco para tudo.

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Minha vida era tranqüila, até o dia em que entrei para o Centro Acadêmico.

Aí, a corda roeu. Eu era PDT de Brizola – logo, para a extrema-esquerda do PT e para o PSTU, eu era de “direita”. Não riam com o fato de me acusarem de ser direitista, menos ainda pelo fato do PT ter tido, um dia, uma extrema-esquerda.

Os caras da “oposição” eram um saco. Reclamavam todo dia: “O CA é um antro de corrupção. Há evidentes demonstrações de tráfico de influência: eles usam o dinheiro dos alunos para comer coxinha e beber tubaína! E o escândalo das passagens de trem? Pegam todo dia, de graça! Isto tem que acabar! (Nelson Merru, 1986)"

Manter um governo de CA dentro de uma universidade sem pertencer a um partido político é barra. Duramos três anos. Perdemos na quarta. Seis meses depois, o CA acabou.

Minha bolsa de estagiário naqueles tempos de Itamar Franco era de dois salariominimux. Ainda era preciso descontar a compra de cartolina, pincel atômico e o lanche. Não sobrava nada. Éramos felizes de toda forma.

Peguei o diploma, dei o fora e fui viver minha vida profissional, cheia de modelos parabolóides e outras matemáticas.

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Escrevo para mim e meia-dúzia de amigos, desde a adolescência. Com a modernidade dos blogs, resolvi aderir à causa: expor meu trabalho e minhas opiniões (baseadas em análises de fatos) – não dogmas ou imposições que, vez por outra, algum lunático resolve assumir como senhor da verdade. Aos poucos, fui me aproximando de pessoas simpáticas, intelectualizadas, com talentos em várias áreas do conhecimento. Meu blog na comunidade eletrônica do jornal O Globo passou a receber adeptos. De meia-dúzia, a turba virou cem, duzentos, sei lá. Eu e meu textos, meus poemas e minhas opiniões contra a hipocrisia que reina em Pindorama.

Romário, o filósofo e craque, definiu como ninguém: “Babaca, tem em todo lugar”. Um frasista impecável.

O saldo é positivo até o momento: centenas de mensagens parabenizadoras, vindas de gente que passei a admirar com idolatria – logo eu, um iconoclasta. Os poetas (de verdade) Pedro Du Bois e Ricardo Mainieri estão aí para confirmar, por exemplo.

Gosto do ambiente de blogs. Gosto das trocas.

Você, leitor, perguntará: E os três inimigos?

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Não é minha vocação dar espaço publicitário para pessoas que, comprovadamente, me prejudicaram inclusive cometendo crimes previstos no Código Penal Brasileiro. Logo, citá-los seria perda de tempo e contra-senso. Três bobalhões. Dois palhaços sem graça e uma Cuca do sítio-do-picapau-amarelo.

Mas, contudo, toadavia (assim mesmo), sou uma pessoa justa: afinal, graças a patetas como estes, até mesmo em função das tolices que já disseram a meu respeito, de certa forma ajudaram a divulgar meu trabalho literário, no que lhes sou grato – embora não valham uma gota de secreção mucosa.

Causam-me curiosidade, pelas características em comum: pessoas da terceira idade rumo à fase final (nicho social ao qual sempre dediquei máximo respeito), com enorme disponibilidade de tempo ocioso (fundamental para malversar pessoas que sequer conhecem em termos pessoais ou de obra); pouco ou nenhum conteúdo respeitável nos diários virtuais que publicam; uma necessidade enorme de auto-afirmação como lideranças virtuais; textos impregnados de citações poéticas (sem o devido crédito dos verdadeiros autores, lamentavelmente) e com altos teores de prepotência, mal-ajambrados com referências do pseudo-realismo místico-fantástico (o que pode ser até o caso de tratamento psiquiátrico); auto-exaltação das personalidades próprias (o que deixa até de ser defeito, devendo ser encarado como humorismo) e mais um calhamaço que não cabe aqui. Em suma, poderiam perfeitamente usar dois pares de tênis, em vez de um, a cada caminhada matinal. E andar de quatro. Lentamente.

Não procurei nenhum dos três para relacionamento virtual. Vieram a meu caminho. Carência? Necessidade de afeto? Transtorno bipolar? Inveja? Desconheço as respostas. Tão logo mostraram má-fé, foram alijados dos contatos de meu ex-blog. Então, preocupados com minha pessoa, mais outros amigos queridos meus, têm perdido o tempo ralo de suas vidas na terra a proferir tolices a meu respeito. Por que não descansam em paz, cremados ou putrefatos dentro da caixa mortuária? Por que não tentam o amor e sexo, tão plausíveis depois dos sessenta? Por que não ler um livro, ouvir um disco, ver um filme? Agregar pessoas, defender boas causas, produzir bons conteúdos blogueiros? Em vez disso, futriquinhas, fofoquinhas, maledicências estúpidas e um enorme sentimento de vazio.

Entender o que meus três detratores têm à mente é tarefa árdua. Não há lógica. Mas é sinal de audiência do meu escrito. E qualidade.

Serei bonzinho.

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Na Terra, três pessoas não gostam de mim, do que eu escrevo. Falam de esguelha. De araque. Não sabem de nada.

Curtem-se. Identificam-se. Assemelham-se.

Por que não experimentam as delícias do ménage à trois? A idosa, velha maritaca, de lésbica ativa; os dois senis esquisitões, de veadinhos indefesos*? Quac!

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Assim, me tornei um micro-Mainardiota por um dia. Menos, menos.

Tenho formação superior, formação intelectual e não vendo meu texto para bandidos.

Meu sincero tributo a um dos seres “brasileiros” mais abomináveis.




* Inspirado na crônica "Ano Novo, contas novas", de meu ídolo Ivan Lessa, 2001, JB.

Paulo-Roberto Andel, 08/05/2009

Thursday, May 07, 2009

Cruzadas contemporâneas















paulo-roberto andel, 07/05/2009

Wednesday, May 06, 2009

Ser tão










Paulo-Roberto Andel, 06/05/2009

Monday, May 04, 2009

CAVALA














cavala
cavala
por onde nada?

há isca pontiaguda
no encalço
agudo
da tua trilha

há rivais
que te invejam
terras triviais
que te desprezam
cores
que te amedrontam

cavala
cavala
por onde nada?

não te confundo
com a cor opaca
nem com opala
mesmo que você
fuja para outra raia

cavala
cavala
regata de metonímia
lírica

paulo-roberto andel, 04/05/2009