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Wednesday, January 13, 2010

CORTES


1

Quem há de alimentar nuances românticas
Diante da aponevrose siamesa da carne especulada
Em seu vermelho vivo de morte, sob a égide de um gancho
Banhado em mar-de-prata?
Os que celebram féretro feito banquet.


2

ao riso que não souber
ser
pranto
por um dia,
resta que se faça espanto
que se veja estreito -
nobre recruta à nostalgia
nem que seja
por um
momento


3

daquilo
que não fira a pátria
pode suceder
um fruto carnoso
e aprazível
disfarçado
de sociedade.
quem irá cortá-lo?


4

não sou nau
de beira-mar
a navegar no raso –
um passo em falso
rumo ao fútil

só oceanos
têm meu anseio,
todos à profundeza
extrema
que só se vê
no volátil


5

minha melhor definição é dizer
que não sei decifrar a cabeça
que me pertence:
mais fácil é sempre tentar desenhar
o engano do outro
da outra cabeça
que pode ou não desacontecer


6

Mausoléu

Abro o álbum e Tatiana parece tão linda como sempre, com seu sorriso de mistério inglês, olhar de pedra preciosa e nariz romano, devidamente disfarçada com certo chapeuzinho que lhe dei. Há um carnaval e um Brasil cheio de velhas novidades, a desfraldar as bandeiras do futuro, muito distante do logro que se vê. E Tatiana parece linda e jovial, linda e delicada, mais-que-linda a ponto de me fazer esquecer, por uma fagulha de momento, que está morta. A realidade a saltitar nas veias é arma lancinante contra meu peito. A beleza de sua voz nunca mais ecoará em meus ouvidos, com as frases curtas, estudadas e temperadamente poéticas. Os arredores não sinalizarão o corpo pequeno e farto de predicados. Sejam abraços, carinhos ou pequenos gestos de amor, tudo se faz e fará milimetricamente desintegrado. A doçura das mãos tímidas, envoltas em pele sedosa e tão confortantes, capazes de massagens santas, será apenas ausência. Nada por perto, longe ou do outro mundo me permite a esperança de sua existência e, se estivesse em outros lençóis, oferecendo dádivas de paixão, continuaria sob a plenitude da morte. E mesmo que fosse ainda mais linda, bem-sucedida, exata e permanentemente feliz, não disponho dos meios de resgatá-la da condição morta. E mesmo que as flores estivessem mais escarlates e vívidas do que nunca, o perfume exalado me lembraria de que está morta. Penso na injustiça de não mais vê-la, escutá-la sequer num bom-dia fugaz. Penso num coração que já não sonha e nem decora estrofes; penso nos seios dionisíacos que não mais ousam intumescer, nos cabelos de metal nobre e camomila que não mais sugerem afago e mais: meu lamento é saber que este momento não sugere mágoa, torpor, desrespeito ou desejos quaisquer que estejam mal-resolvidos – o que ele diz, na verdade, é de toda a fragilidade que ronda nossa carne e nossos pensamentos neste intervalo chamado vida. Seria mais fácil viver um rancor do que a insanidade cotidiana desenhada nas agruras do mundo, que simplesmente o é. Também não cabe esculpir uma saudade. Afinal, os livros vão nascer e cada um de seus poemas voará por corações solitários às brisas. Aos vivos, caberá o sofrer; aos ricos, um milionário licor de gosto vazio. Haverá risos nas tabernas, enquanto a injustiça semeará ruas. Haverá vida. Entretanto, Tatiana está morta, e só lhe cabe a ressurreição em pequenos escritos e lembranças esparsas, todas de tamanho equivalente às que findam o momento espalmado de visar esta fotografia. Tatiana está morta e seu mausoléu é um retrato. Quero apenas um troféu, feito de ver a dança de Juliana.


paulorobertoandel13012010

Monday, January 11, 2010

CARNE BAILE



é o calor de veraneio

à madrugada
que me deflora
enquanto cobiço
tua carne
teus lábios de Estocolmo
teus cabelos de cereja nova
e os seios
a me adormecer em êxtase
a carne que me inebria à dança
o corpo que meu sonho
persegue à sede peregrina
mesmo que outros lençóis
te façam cortejo
flama da paixão que tinge o sexo
o calor que me deflora
é almejar o gosto da tua pele
do teu beijo
e beijo
e carne e baile à lascívia
o calor
é teu ventre liso
que meu olhar fulmina
feito horizonte
do oceano
é tudo carne e baile!

paulorobertoandel11012010

Friday, January 08, 2010

ESTRICNINA 2010


ligeira, a moça
com seus firmes passos
de juventude

ao sabor da lida

atravessa o boulevard
enquanto
olhares de lascívia
e doçura, atrozes,
escorrem
nas pedras portuguesas

alguns denotam-lhe
tesão, prazer, perdão,
mas nenhum tem

o macete da rima -
tão-somente

uma empolgação
de sugerir
certo clima

outros, rejeitados,
sorvem o gosto amargo
da vã desilusão -
é a contramão,
fel à vista,
ametista

temperada com
estricnina


paulorobertoandel08012010remix



Thursday, January 07, 2010

UMA TAREFA DO POEMA



o poema pode

ser
patético
ou
lunático
ou mesmo
intrépido,
desde que
olhe sempre
para o novo
à frente,

o rebuscado
mesmo que
simplificado.
o que
não cabe
ao poema
é ser
caquético
ou
prático.
o poema
não merece
nascer
com sabor
de café
passado.
o que
o poema
deseja
nas entranhas
é despir
e revelar
o inusitado.


paulo
roberto
andel
07012010

Wednesday, January 06, 2010

A GROTESCA IMAGEM DO NEOFASCISMO NO BRASIL



Não precisamos de neofascistas na televisão e em nenhum outro lugar do Brasil ou do mundo.

Não precisamos de gente que ridiculariza os pobres.

Não precisamos de lacaios da direita nazista que torturou e matou civis no Brasil durante a ditadura militar.

Não precisamos de verborragia rasteira temperada com efeminação senil.

Não precisamos de Boris Casoy para nada. NADA!

Este blog reitera sua solidariedade aos garis, camelôs, biscateiros e outros milhões de brasileiros que lutam com suas forças de trabalho diariamente para o próprio sustento e o de suas famílias. E despreza com rigor pseudo-gente que se julga superior por ter vendido a própria alma a benesses e imundícies.

O pior dos garis de todo o Brasil é cem vezes mais digno do que Boris Casoy.

O lixo que qualquer gari recolhe nas ruas e vielas do Brasil é muito mais digno do que Boris Casoy.

Que o inferno lhe seja aprazível.


Tuesday, January 05, 2010

ARTE MÃE





















Poucos têm a sorte de ter a própria mãe retratada numa obra de arte.

Eu tive.

Ao pintor, cabe todo o agradecimento. Contudo, uma ressalva: perto da imagem real, a pintura da minha mãe chega a estar feia...

Paulo-Roberto Andel, 05/01/2010